Oito Reinos (Parte II)
Quinto Reino: Reino de Max
A viagem transcorreu sem nenhum incidente sério. A estrada era bem pavimentada e sinalizada. Logo chegamos a uma enorme avenida com casas de fachada estreita e janelas de vidro. Notei que não havia garagens e os carros estavam estacionados nos dois lados dela. Encontrei no caminho com dois garotos que tinham surrupiado um livro de uma livraria próxima. Fiz menção de persegui-los. Todavia, Oscar me agarrou pelo braço mais uma vez.
- O que você tem na cabeça afinal? Quantas vezes tenho que dizer pra não intervir nos assuntos dos reinos alheios!!! Aqueles dois que tu viste passando são os Especialistas. Bons na arte do roubo e da pancadaria. Quer outro olho roxo?
- Não, Oscar, muito obrigado!!! Precisamos encontrar Max logo.
Passando a perfumaria, cruzamos com uma bela mulher que me enfeitiçou com sua beleza. Já ia correr atrás dela quando Oscar puxou minhas orelhas e deu uma carraspana lembrando-me de meus deveres como um rei.
Tudo o que queria era sair desse sonho louco e voltar pra casa porque a aula já tinha ido pro espaço.
Continuei andando e finalmente encontrei Max. Estava com a filhinha de mãos dadas na praça principal contemplando as árvores e os passarinhos.
- E aí, Mario!!! Quanto tempo tu não vens me visitar? Já estava com saudade de ti!! Como vai teu reino?
- Max, gostaria que tu me respondesses uma coisa. Onde fica a porra do meu reino?
- Não acredito que não sabes onde mora!!!! Vou te dar uma dica. Fica no extremo norte e tu precisa andar de trem. Ah, a Isabel te aguarda no reino dela que está a 150 km mais ao sudoeste da cadeia de montanhas. Pegue esse mesmo trem que tu chega lá.
- Obrigado, Max!! A gente se vê.
- Com certeza.
Despedimos-se dele e fomos pegar o trem rumo ao sexto reino. O reino de Isabel.
Sexto Reino: Reino de Isabel
A viagem de trem foi legal, comparada com as outras. Subimos as montanhas e fiquei maravilhado com a vista que a paisagem oferecia. Dava para ver quase todos os reinos, exceto o suposto meu. Valia á pena acreditar que tudo era real.
Depois de passar pela cadeia de montanhas, Oscar e eu chegamos finalmente ao reino de Isabel.
Era um reino bem simples, mas muito bonito. As ruas eram poucas porem pavimentadas. Havia fábricas alimentícias e algumas padarias que serviam todo tipo de quitute que possa imaginar desde enroladinhos de salsicha até quibes e pastéis de todos os recheios possíveis, seja carne, frango ou goiabada. Sem falar no pão sempre quente e na esmerada educação de seus personagens.
Eu pensei bem que depois de tantas desventuras, merecia mesmo um lanche pra forrar o estômago e sentei-me na mesa junto com o Oscar para comer.
Então Isabel surgiu com seu sorriso. Viu Oscar e deu um abraço forte nele. Imediatamente pediu ao seu personagem de confiança que servisse todos os salgadinhos e doces que se possam imaginar. Alem de um enorme bolo de chocolate que nos fez ficar com água na boca.
- E então, Mario!!! Por que não vinhas me visitar? Já sei!!! Estava ocupado demais bebendo vinho, não é?
- Não é isso, não. É que gostaria de saber onde fica meu reino?
- Uns 250 quilômetros daqui, se me lembro bem. Agora coma bastante.
- Não sei se vou conseguir comer tudo isso, Isabel.
- Vais precisar sim. Gastarás muita energia em caminhar 240 quilômetros até o reino principal onde o Márcio governa, o Marca Diabo, sabe. Somos apenas reinos-satélites dele.
- O Márcio também tem um reino? Bom, pelo menos vou poder me desculpar com ele sobre meu atraso na aula.
- Desculpar-se de quê? Aulas não existem nesse mundo.
Fiquei pasmo pelo que ela disse. Mas pelo menos iria encher minha pança o suficiente para agüentar a dolorosa viagem ao reino do Marca Diabo, onde me encontraria com o Márcio.
Dormimos muito bem e no dia seguinte, despedimos-se de Isabel e partimos rumo ao reino-mãe. O reino de Márcio Ezequiel.
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Sétimo Reino: O Marca Diabo de Márcio Ezequiel
A viagem foi cansativa até esse reino também conhecido como Marca Diabo. Fiquei de queixo caído quando vi o que tinha no local.
A primeira vista, parecia uma cidade futurística com muitos prédios modernos e carros de última geração passando pelas ruas. Vi mendigos com sapatos novos se aquecendo na lata de lixo e numa das ruas próximas, presenciei uma manifestação contra os imediatismos sendo reprimida pela polícia a chineladas.
Mais adiante, encontramos um pescador chamado Jonas e resolvi pedir informações a respeito do seu criador. Me arrependi de ter feito isso.
Xingou de tudo quanto é nome e ameaçou me jogar ao mar pra servir de comida as piranhas. Para evitar problemas maiores, resolvi deixá-lo de lado e fui embora.
- Não pode fazer mais isso, Mário!!! Quer provocar um incidente diplomático?
- Mas o que é que eu fiz agora, Oscar? Só pedi informações ao homem!!!
- Tu querias era roubar a piranha dele que eu vi. Agora vamos, o Márcio nos espera dentro da Central Burocrática.
- O que é isso?
- É o local onde se assina os despachos para os outros reinos. Cada papel assinado libera as verbas que o pessoal pede. Aliás, não entregasse sua papelada ainda para o Márcio.
- Eu só peço uma coisa. SAIR DESSA MALUQUICE!!!!
Já estava com meus nervos a flor da pele quando vi Márcio. Estava dando instruções aos seus personagens sobre o que fazer e depois foi a sua sala carimbar papéis.
- Então, Mário!!! Já trouxesse tua papelada pra hoje?
- Márcio, eu queria te pedir desculpas por não ter ido a tua aula na Oficina.
- Que aula? Que oficina? Aqui é a Central Burocrática. Dê seu papel e a gente te enrola por vários dias. Mas somos bastante ágeis nos pedidos.
- Márcio, onde é meu reino?
- Aqui pertinho. Depois de estar á toa na vida e seu amor te chamar para ver a banda passar, tu vais a esquerda, outra vez a esquerda e de novo pra esquerda antes de dar a saída para a direita. Quando fizer isso, chegarás na sua querida casa. Qual seu pedido? Uma baratinha? Um boneco Falcon? Ou uma Caloi pra não esquecer?
- Nada não, obrigado. Quem sabe se chegar lá no meu reino essa loucura acabe.
- Que peninha!!! Não vais levar nada pra casa mesmo?
- Não, Márcio. Até mais.
Saí daquele lugar maluco com o Oscar e andei mais uns dez quilômetros até chegar em um local estranho e cheio de cartazes de máscaras. Enfim tinha encontrado meu reino. Estava aliviado. Meu pesadelo iria terminar.
Oitavo Reino: Reino de Mário
Adentrei-o afinal e fiquei meio sem ação ao ver tudo aquilo. Meu reino tinha casas muito estranhas e havia ao lado delas um enorme estádio de futebol. A praça estava muito depredada e suja e o trânsito era caótico. Todos os meus personagens estavam ali esperando minha chegada com um sorriso em cada rosto.
- Tio, tu não vais nos abandonar de novo, né? Fique conosco!!! – disse o garoto de rua dos Sonhos.
- Não nos jogue na gaveta!!! Nós somos parte de sua vida – disse o homem solitário da avenida da Solidão.
- Toda vez que usa seu dom, nossa alegria e nossa esperança de um mundo melhor aumenta ainda mais – disse o velho da alameda das Esperanças.
Fiquei emocionado com todas essas declarações e quando quis me virar para trás, o Oscar já tinha ido embora. Sua missão estava cumprida.
Estava cansado demais para continuar andando e resolvi me deitar em um dos bancos da praça. Fechei os olhos e dormi.
Epílogo
Acordei ainda dentro do banheiro. Ainda estava confuso com tudo o que aconteceu e resolvi olhar no relógio do meu celular para saber que horas eram. Já estava meia hora atrasado. Subi as escadas e cumprimentei meus colegas que já estavam conversando com o Márcio. Não poderia contar para eles sobre meu sonho. Talvez não acreditassem.
Márcio então me olhou com espanto porque sempre eu chegava antes dele nas aulas. Mesmo assim fez sua indefectível pergunta:
- E então, Mário. Trouxe algum texto pra hoje?