Pai. Saudades...

Pele morena, estatura mediana, olhos castanhos, onze anos. Se descobrindo no mundo.

Aprendera a ler aos cinco, sozinha, sem nenhum esforço, tudo muito natural.

Desde então as letras se tornaram irresistíveis aos seus olhos. Tudo o que via lia.

Não podia evitar. Ler, tornou-se uma paixão. Um grande fascínio.

Perdera o pai quando tinha apenas um ano de idade. Num acidente de trabalho.

Não recordava momentos com ele. O conhecia apenas por fotos. E amava-o.

Um certo dia, mexendo numa caixa onde sua mãe guardava documentos, lendo tudo quanto podia, encontrou a leitura mais triste de sua vida: “Atestado de óbito. Causa da morte: anemia aguda devido a ruptura de órgãos internos”.

Chorou, brigou com Deus. Por que?

Pegou o papel, levou consigo.

De vez em quando lia-o de novo. Só pra ter certeza. Ele realmente se fora. Não iria voltar.

Quinze anos agora. Descobrira outra forma de usar as letras. Podia escrever.Colocar seus sentimentos no papel. Fez das palavras seu refugio.

Hoje, vinte e três anos. Já e mãe.

Ainda guarda consigo a triste leitura. Ainda pega o papel e chora.Ainda queria ter o pai por perto. Pedir a benção. Ouvir conselhos, um colo pra deitar...

Saudades. Apenas saudades...

Julianna Fonseca
Enviado por Julianna Fonseca em 10/11/2011
Reeditado em 10/11/2011
Código do texto: T3328947