A CONCLUSÃO DO REI
Um rei, cansado de tanta felicidade, de luxo, bajulações e riquezas, vestiu-se de miserável e foi para o campo. Em casebre rústico passou o dia, comeu virado de feijão com torresmo e tomou café preto em latinha de conserva. Ouviu o toque de viola e admirou-se de ver o sol entrando pelo casebre através de buracos nas paredes.
Gostou tanto que esqueceu sua condição de rei e pernoitou ali; à noite, tomou cachaça com rapadura e limão cravo, deitando-se na esteira junto à parede esburacada. De madrugada, pela primeira vez, viu o clarão do dia que penetrava em seu leito de esteira, através dos buracos da parede, expulsando a escuridão. Ouviu a serenata linda e melodiosa da passarada do campo. Adorou.
Pensou até em se tornar camponês para sempre, mas, no terreiro do casebre a guarda imperial o aguardava para reconduzi-lo ao palácio. O rei levantou-se, tomou o café preto e, ante a curiosidade geral, mandou que enchessem aquele casebre de ouro, subiu na carruagem real e voltou à sua prisão austera de felicidade chegando à seguinte conclusão:
A felicidade não está na grandeza, mas na satisfação dos menores desejos de cada pessoa ainda que, aos outros, pareçam pequeninos e insignificantes.