O MUNDO É CHEIO DE SURPRESAS.3 (os encontros)
Clara e Olavo se conheceram nas redes sociais. Nos famosos sites de paquera, onde milhares de solitários, talvez nem tanto assim, se disponibilizam para encontrar outros nas mesmas condições. Solitários à procura de um amor, em qualquer forma e pelo tempo que for, embora no fundo todos queiram um “relacionamento sério”. Clara se inscrevia nesses sites por curiosidade, mas também com uma pontinha de esperança em “encontrar alguém especial”. Era assim que estava em seu perfil. Ela procurava muito mais uma companhia para seus passeios culturais, uma forma de tornar mais prazerosos os eventos aos quais adorava ir.
Quando apareceu na sua tela a foto de Olavo, um tipo sério, sem sorriso, tão compenetrado era sua fisionomia, pensou: nossa! Sua imagem transmitia ser alguém que não está de brincadeira. Clara então se encantou. Cada um de nós tem parâmetros para definir nossa preferência em relação ao sexo oposto. A de clara se resumia em “interessante”. Uma palavra que abrangia uma séria de adjetivos que alguém deveria ter para ser seu par perfeito. E Olavo era “muito interessante”. E conversa virtual vem, conversa vai. Recadinhos para cá e para lá, um dia se encontraram. E o interessante virtual ficou melhor ainda. Para ambos. Pelo menos era o que parecia. E nas descobertas mútuas foram se acertando sem definições, sem nomear sua relação. Era muito bom estarem juntos. Clara se sentia muito feliz nesses momentos. Ela os preparava com todo carinho. A maioria deles aconteceu na casa dela, já que morava a maior parte de tempo sozinha. Filhos se vão para o mundo e nos visitam de vez em quando. Ela esperava ansiosa a chegada de Olavo. Sempre havia vinho para celebrar tais momentos. Não que fosse conhecedora, mas buscava nas prateleiras do mercado algo bom, preferencialmente, os tintos portugueses. Lia os rótulos com carinho e sorrisos nos lábios imaginando quando seriam degustados e com quem, Olavo. Buscava o ano da safra e procedência, tentando escolher uma boa bebida. Escolhia os que tinham dois ou mais anos, assim imaginava e desejava que eles fossem mais “chiques” na sua simplicidade. Como todo encontro amoroso, em qualquer idade, há a preocupação que tudo seja perfeito, o mais agradável possível, e Clara se esmerava nos preparativo. Havia sempre uma surpresa. Queijos e vinhos. Patê e torradinhas. Bolinhos portugueses, de chuva, feitos por ela. Esses agrados tão comuns e carinhosos que as mulheres fazem para seus pares, seus amores, seus homens. Na realidade, foram poucos, raros e curtos esses encontros. Olavo sempre ia embora ao amanhecer. Mas eles foram especiais demais para Clara, por que ele era a pessoa com quem ela queria estar e realizar esse prazer era seu sonho naqueles tempos. Por isso não conseguia entender como pôde perder-se e a Olavo também.
Continua...
Irene Freitas
31/10/2011