O santo das freiras

Atenção: leitura desaconselhável para menores de 14 anos

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Conta-se, nas imediações onde moro, a história de um santo, conhecido como São Maneco Terra. Muitos lhe atribuem diversos milagres, mas eu sei a verdadeira história. E vou contar-lhe agora. Maneco Terra era homem das ruas. Já com seus quase 40 anos, vivia com sua mãe, de quem sempre arrancava uma grana. O restante vinha de trambiques e pequenos golpes. Bebia, fumava, jogava, saia com mulheres. Tinha uma vida de festas e bocejos. Na região onde morava, todos o conheciam. Tinha uma fama impar. Porém, cansado da falta de emoção pela rotina tediosa da fama já desgastada, resolveu conhecer outros pontos da grande cidade onde morava. Saiu meio sem rumo, com uns goles na cabeça, de bar em bar, até que chegou perto de um grande e envelhecido prédio. Ficou admirado com o tamanho do local. Ao passar pela entrada principal pôde ler na fachada: “Convento Santa Mariana”. Parou por alguns instantes. Quase não percebeu um pequeno cortejo de freiras que vinha em sua direção pela calçada. Olhou para elas, e viu entre as beatas uma de raríssima beleza. Uma mulher como há muito tempo não via. Tinha os olhos celestes, de tão azuis, e uma pele branquinha e frágil, como uma boneca de porcelana. Mas o que lhe capturou foi o olhar e o sorriso da jovem freira, quando ela fitou-lhe, aceitando o cruzamento de olhares, e lhe esboçando o sorriso mais provocante que já vira. Ao voltar seu olhar para o caminho que seguia, Maneco viu-se sem chão, sem qualquer reação. Por dias, Maneco Terra não dormiu, apenas pensando nos pecados carnais que gostaria de fazer com aquela freira lindíssima. Até que teve uma idéia. A única forma de vê-la seria entrando no convento, e só conseguiria tal feito se fosse convidado pela madre superior. Precisava mostrar às freiras que era um homem sério, bondoso. Alguém de índole santa. E, por que não, um homem santo. Por dias, passou a ir até as imediações do convento. O dinheiro que usava para comprar cachaça passou a ser usado para ajudar as pobres almas que por ali residiam. Ajudou crianças famintas, mães desesperadas, homens sem fé, pessoas e mais pessoas, pobres, velhas, qualquer um que precisasse de ajuda. Logo, sua fama nas redondezas do convento começou a crescer. Era visto como um homem caridoso, que não media esforços para ajudar a quem necessitasse. Não tardou, e as freiras ficaram sabendo. Passou a haver uma série de cochichos pelos corredores do convento, sobre quem seria tal homem. A madre, certa de que precisava conhecê-lo, convidou-o para que entrasse no convento. Era o que ele mais queria. Desde a fundação, Maneco foi o primeiro homem não ligado ao sacerdócio a entrar nas dependências do convento. Sua visita foi curta, mas utilizou de toda sua lábia para agradá-las. Ao final de sua excursão, as freiras lhe atribuíam sorrisos de alegria, por verem um homem tão santo. Como lembrança, uma foto sua foi tirada, para que as freiras pudessem rezar por essa alma abençoada. Mas, para Maneco Terra, a visita não foi muito proveitosa. Não conseguiu ficar um segundo sequer perto da freira que tirava seu sono. O máximo que fizeram foi trocar olhares tímidos, pelo medo de que as freiras descobrissem. Ao se despedir delas, sentiu em si uma angustia sem fim. Por alguns dias nem conseguia mais beber um gole que fosse de seu conhaque preferido. Um dia, andado pela calçada do convento, de cabeça baixa e distraído, assustou-se quando em sua frente ela apareceu. A freira de seus sonhos, a mulher que lhe arrancara o chão. Ela esticou-lhe a mão, e lhe deu um molho com 3 chaves, explicando as portas onde cada uma deveria ser usada. A primeira era da porta dos fundos. A segunda chave, da porta que dá acesso ao prédio, depois de seguir um pequeno corredor ao ar livre, à direita. Depois deveria subir uma escadaria, virar à esquerda, seguir até a segunda porta à direita e usar a terceira chave para abrir seu quarto. Mas ela avisou-lhe da necessidade de esperar até meia noite, e de fazer tudo em absoluto silencio. Ele a ouviu quieto, embalando-se pela suavidade de sua voz. Depois de um sorriso lascivo, ela se foi. Até o a meia noite daquele dia, Maneco tremeu como nunca. Ao chegar à hora, fez tudo como ela explicou, com muita cautela. Chegando à porta do quarto, girou a chave vagarosamente. Quando entrou no quarto, quase não acreditou. Ela estava completamente nua, bem à sua frente. Daí em diante, aquele quarto de convento presenciou a mais pecaminosa noite de sua história. No êxtase de estar com aquela mulher debaixo de si, Maneco Terra começou a sentir seu coração disparar. A agitação cardíaca foi aumentando, mais, e mais, até que ele não aguentou. Deu um último gemido, jogou seu corpo para o lado, com a mão direita sobre seu coração, e desabou no piso. A freira, desesperada, tentou reanima-lo, mas infelizmente, aquele homem, que havia feito a mulher dentro dela saltar como uma fera pelos poros, havia morrido. Aguardou por alguns instantes, para conferir se alguma de suas colegas de clausura percebera alguma coisa, mas, para sua sorte, o silencio imperava por todos os lados. Vestiu-se. Depois, vestiu o homem que lhe dera tanto prazer. Com muito esforço, e muita cautela, arrastou o corpo do pobre Maneco pelo corredor, pela escadaria, pelo outro corredor externo, até chegar à porta dos fundos. Do lado de fora, ajoelhou-o com o rosto apoiado na parede, bem ao lado da porta, na intenção de que, assim, quem sabe, Deus lhe pudesse ver como um santo, e não como um devasso. No dia seguinte, quando as freiras e demais pessoas nas redondezas encontraram o corpo de Maneco Terra ajoelhado ao lado da porta dos fundos, instantaneamente a alcunha “santo” lhe foi atribuída. O homem que ajudava os pobres teria, segundo as línguas ávidas por fofocas, morrido, enquanto rezava pelas freiras. A fama se espalhou, e São Maneco Terra tornou-se um ícone. Uma lenda. A foto tirada dele, com a intenção de que as freiras orassem por sua alma bondosa, foi colocada num altar, na pequena capela que fica próxima ao refeitório do convento, e até hoje, contam-se histórias de milagres atribuídos ao santo protetor das freiras. Porém, isso não é tudo. Há algo que pouquíssimas pessoas sabem. Meses depois da morte de Maneco Terra, a freira que estava em seus braços quando este resolveu conhecer o criador, não mais aguentava de saudades. Numa noite fria, ela saiu de seu quarto, desceu a escadaria, e foi em direção à capela, onde a foto de seu inesquecível amado estava. Ao chegar de frente à porta, percebeu que ela estava entreaberta. Entrou, e a cena que viu nunca mais saiu de suas retinas. Ela viu a madre superior, de frente para a foto, com os olhos virados, os lábios mordidos e o vestido levantado. Sua mão direita roçava sua virilha de forma frenética quando, com uma voz quase gutural, ela disse:

- Maaneeeecooo...

Eder Ferreira
Enviado por Eder Ferreira em 28/10/2011
Reeditado em 28/10/2011
Código do texto: T3302908
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