Devaneio
Era um quarto nos fundos, pequeno e escuro, de dentro ouvia-se uma melodia fúnebre não muito alta. Estava sujo e desarrumado, paredes azuladas refletindo a luz fraca que vinha da vela desgastada em cima da prateleira. Lá estava um jovem, aparentando chegar a fase adulta em pouco tempo, sentado aos soluços e lágrimas perdido em seus próprios devaneios.
- Porque morrer? – diz esta voz silenciosamente em algum lugar do quarto, assustando o jovem.
- Porque viver? – sussurrou o jovem perguntando-se se tinha pensado em voz alta e também ainda assustado por ouvir tão repentinamente a voz, porém, confiante. – Porque viver, se já perdi tudo que tinha nessa vida? – Continuou.
- Se por “tudo que tinha” você fala de sua amada…
- Era tudo por que e por quem eu vivia. – Interrompeu o jovem antes da voz opinar, parecendo perdido em seus próprios pensamentos.
- Talvez não seja imprudente de sua parte, cometer um ato tão sério apenas por um de seus amores? – Questionou a voz sem emoção mais uma vez.
- “Um de seus amores”? – Repetiu desgostoso. – Substitua isso por “a única”. Ela sempre foi e sempre será a única pra mim nessa e em outras vidas. – Falou enquanto levantava-se e andava em círculos, angustiado.
- E como sabes que ela é a única? És tão jovem para falar desse jeito. – Ouviu-se outra vez.
- Eu simplesmente sei, e tenho certeza disso! – Falou ainda mais confiante. – E agora ela se foi! Foi entregue aos braços de um estranho qualquer, tal pensamento me faz regurgitar. – Ele parecia cada vez mais pálido a medida que a conversa se estendia.
Ele que já tinha topado com essa pergunta muitas vezes, que já fez pensar muito, anos atrás. Mas agora, a certeza podia ser vista no seu olhar. Parecia acostumado com a ideia de ouvir vozes em seu quarto, mesmo tomando um belo susto algumas vezes, pego desprevenido.
Uma taça de vinho e seus habituais cigarros são tudo que tem desde que sua companheira se foi, desde que sua amada decidiu continuar seus estudos em outro lugar, tão longe quanto poderia.
- Isto lhe da o direito? Onde está toda a coragem que dizias tanto ter? Tu se encontra agora tão agarrado a própria tristeza que parece ama-la como um irmão! Abra teus olhos, veja quantos sonhos ainda hão de ser realizados! Não é de sua natureza desistir de sonhos e metas assim. – Enquanto o eco da ultima palavra diminuía, o jovem acendia mais um cigarro com sua mão suada, como costumava fazer sempre que o assunto chegava nos seus sonhos e metas.
- Eu não sei, quando penso num futuro sem a princesa christine ao meu lado, me parece um futuro de dor além da que posso aguentar! Apenas quero evitar meu próprio sofrimento. -
- Você fala como se sua tão amada estivesse falecida, quando está em perfeito estado físico. – Questionou.
- Antes de ir, ela me escreveu. Suas palavras diziam nada menos que para mim, estaria morta. – Ela parecia perder a calma, sentando-se na cama com as mãos agarrando a cabeça. Uma lágrima corria lentamente no rosto trêmulo e suado.
- O que sabes não ser verdade. teu amor, tão puro e verdadeiro quanto é, não se via tal intensidade e força por meio de sentimentos a muito tempo, eu lhe digo! Tal como Romeu e Julieta, uma historia trágica, romântica e verdadeira! Assim como deve ser o verdadeiro amor. -
- Não vejo porque procurar uma donzela que não quer ser procurada, se é isso que está para sugerir. – Suspirou.
- Oh meu querido garoto, mesmo depois de tanto tempo junto a quem ama, não parece conhecer o estilo de soluções sempre usado por sua companheira Christine… -
- Ela não pode estar fazendo de novo! Ela prometeu. – Falou rispidamente enquanto abria mais uma garrafa de vinho e em seguida jogava ao lado de mais 6 garrafas vazias no chão.
- Promessas, promessas, parece que ainda não aprendeu o bastante com todas as já feitas, não é? – Após ouvir e dar um sorriso de meia boca, bebeu toda a taça de vinho de uma só vez. – Porque então não pensa em dar um fim nesses planos e viajar a procura da sua princesa? – Ouviu-se falar após alguns segundos.
- Não é tão fácil quanto parece. – Ele falou agora enchendo outra taça e sentando na cama mais calmo, considerando a ideia.
Passou alguns minutos pensando nos acontecimentos recentes, e em todo o passado com sua princesa Christine, de repente uma pergunta lhe ocorreu.
- Espera, afinal, de onde vem essa voz que escuto sempre em minhas noites cabulosas de solidão? – Levantava da cama, intrigado.
- Ora, posso ser apenas uma voz em sua cabeça, um sinal de loucura, uma alucinação causada pelo álcool, sua imaginação que decidirá! -
E não se ouviu mais nada.