O Crepúsculo
Diante das palavras meu coração pulsava valente enquanto meus olhos transcorriam insistentes percorrendo toda a página. Palavras de ternura enchiam o coração de paúra, porque não eram somente palavras. Na história que seguia, sem contar sequer o passar das horas, os personagens infligiam todo o meu ser, sem sequer me deixar sair uma hora. Eu, tão sozinho e desabitado, largado no deserto a que me levavam aquelas páginas, refletia agora o meu ser, meu inestimável e pequeno ser durante muito mais que duas horas.
Minha tendência literária, meu forte impulso criador e precursor de todos os outros meus dons artísticos eram nada diante de tão prezada obra. O ar era demasiadamente frio e uma xícara de chá apenas me esquentava. Demasiadamente crítico, demasiadamente belo, o texto era para mim como o universo correto e ideal do ser humano.
Se Maksim Górki ou se até mesmo o próprio Shakespeare lessem aquilo, eu pensava, não diriam que eram somente palavras. Ah insensato e tão pequeno ser, quem sou eu ante a tão bela e confusa máquina? Complexa em sua atitude, viril no seu pensar, vazia ao expressar. Se todos pudessem sentir, apenas diriam "Quem sou eu para pensar? Quem sou eu para ousar o não mudar?”
Ante a tão profunda alma que habita em tão doces palavras que soam como música ao ouvido dos que verdadeiramente amam, no sentido mais expresso da palavra, o que diria a humanidade? Que todo gênio é louco, que nem todo pobre é humilde e que nem todo rico é bondoso? Que as palavras voam ao vento e que nunca ficam no coração de quem ama? Sábio pensamento, que ilude e desmente tudo aquilo que eu lia e relia e que tão profunda amargura cria no coração de quem se engana.
A angústia de saber que o mundo está repleto de filósofos da desesperança, de matemáticos da miséria e de fajutos artistas do ópio me deixava sofrer. Também eu, um artista, internado em tão louras palavras, não mais que um homem consciente do meu erro, ante tudo que há de belo, debulhava aquelas páginas. À metade daquele livro eu não era o mesmo eu de outrora, era um eu adicionado de libido e reconhecimento da pequenez de tão purga criatura humana.
"O gênio somente é gênio porque não se reconhece como tal. Os "sábios" são somente burros porque ante a sua sapiência pensam já saber de tudo, quando tudo o que sabem nada significa, na verdade." Eu e meus conflitos, eu e meus conhecimentos, eu e a criatura, ela, humana, tão somente máquina. Antes fosse a máquina um objeto de criar e repetir tão somente ternura. Antes fosse a máquina um instrumento de desenvolvimento dela mesmo, a criatura.
No entanto, no mundo, o que cresce são somente os prédios, e as cidades, e a tecnologia e a filosofia dos que por dentro se encabrunham. O homem, este ser que apenas fica intacto, rendido às revoluções que sua inestimável inteligência cria para retirar o sentido do ser, do mudar, do transformar e do pensar, permanece pálido. E pálido ele continua imerso, porém também imóvel nas ações que justificam a existência de si próprio.
Antes fosse tudo isto um conto, antes fosse uma mera história, mas a xícara contendo agora chá frio, igual ao ar a minha volta, provava que não era fato recente e que o tempo muda ao passar das horas. Meus pensamentos esvoaçavam em minha cabeça, reviravam minha memória, reconfiguravam de modo cortante todos os conceitos e preconceitos do corpo que habitava minha alma ao raiar da aurora.
Entender o ser humano como o homem é entender o homem como ser humano, pois nem todo ser humano é homem e nem todo homem é ser humano. E eu, homem, ao final do livro, nú, fui novamente ser humano, ou quem sabe tão somente homem, ou será que fui semente de um possível ser humano? Não fui o mesmo homem.
O homem que teve consciência do que é ser homem, mesmo que seja através de um livro, não poderá ser homem igual aos outros homens, pois será ser humano. Fui homem, diferente de tudo e de todos porque ser homem é agir como ser humano do raiar do dia ao crepúsculo da aurora, durante todos os dias, até que estes se acabem. Meu desejo ao terminar o livro era ser um homem que fosse mais humano, que fosse alvorada no falar, mas jamais crepúsculo no pensar.
Diante das palavras meu coração pulsava valente enquanto meus olhos transcorriam insistentes percorrendo toda a página. Palavras de ternura enchiam o coração de paúra, porque não eram somente palavras. Na história que seguia, sem contar sequer o passar das horas, os personagens infligiam todo o meu ser, sem sequer me deixar sair uma hora. Eu, tão sozinho e desabitado, largado no deserto a que me levavam aquelas páginas, refletia agora o meu ser, meu inestimável e pequeno ser durante muito mais que duas horas.
Minha tendência literária, meu forte impulso criador e precursor de todos os outros meus dons artísticos eram nada diante de tão prezada obra. O ar era demasiadamente frio e uma xícara de chá apenas me esquentava. Demasiadamente crítico, demasiadamente belo, o texto era para mim como o universo correto e ideal do ser humano.
Se Maksim Górki ou se até mesmo o próprio Shakespeare lessem aquilo, eu pensava, não diriam que eram somente palavras. Ah insensato e tão pequeno ser, quem sou eu ante a tão bela e confusa máquina? Complexa em sua atitude, viril no seu pensar, vazia ao expressar. Se todos pudessem sentir, apenas diriam "Quem sou eu para pensar? Quem sou eu para ousar o não mudar?”
Ante a tão profunda alma que habita em tão doces palavras que soam como música ao ouvido dos que verdadeiramente amam, no sentido mais expresso da palavra, o que diria a humanidade? Que todo gênio é louco, que nem todo pobre é humilde e que nem todo rico é bondoso? Que as palavras voam ao vento e que nunca ficam no coração de quem ama? Sábio pensamento, que ilude e desmente tudo aquilo que eu lia e relia e que tão profunda amargura cria no coração de quem se engana.
A angústia de saber que o mundo está repleto de filósofos da desesperança, de matemáticos da miséria e de fajutos artistas do ópio me deixava sofrer. Também eu, um artista, internado em tão louras palavras, não mais que um homem consciente do meu erro, ante tudo que há de belo, debulhava aquelas páginas. À metade daquele livro eu não era o mesmo eu de outrora, era um eu adicionado de libido e reconhecimento da pequenez de tão purga criatura humana.
"O gênio somente é gênio porque não se reconhece como tal. Os "sábios" são somente burros porque ante a sua sapiência pensam já saber de tudo, quando tudo o que sabem nada significa, na verdade." Eu e meus conflitos, eu e meus conhecimentos, eu e a criatura, ela, humana, tão somente máquina. Antes fosse a máquina um objeto de criar e repetir tão somente ternura. Antes fosse a máquina um instrumento de desenvolvimento dela mesmo, a criatura.
No entanto, no mundo, o que cresce são somente os prédios, e as cidades, e a tecnologia e a filosofia dos que por dentro se encabrunham. O homem, este ser que apenas fica intacto, rendido às revoluções que sua inestimável inteligência cria para retirar o sentido do ser, do mudar, do transformar e do pensar, permanece pálido. E pálido ele continua imerso, porém também imóvel nas ações que justificam a existência de si próprio.
Antes fosse tudo isto um conto, antes fosse uma mera história, mas a xícara contendo agora chá frio, igual ao ar a minha volta, provava que não era fato recente e que o tempo muda ao passar das horas. Meus pensamentos esvoaçavam em minha cabeça, reviravam minha memória, reconfiguravam de modo cortante todos os conceitos e preconceitos do corpo que habitava minha alma ao raiar da aurora.
Entender o ser humano como o homem é entender o homem como ser humano, pois nem todo ser humano é homem e nem todo homem é ser humano. E eu, homem, ao final do livro, nú, fui novamente ser humano, ou quem sabe tão somente homem, ou será que fui semente de um possível ser humano? Não fui o mesmo homem.
O homem que teve consciência do que é ser homem, mesmo que seja através de um livro, não poderá ser homem igual aos outros homens, pois será ser humano. Fui homem, diferente de tudo e de todos porque ser homem é agir como ser humano do raiar do dia ao crepúsculo da aurora, durante todos os dias, até que estes se acabem. Meu desejo ao terminar o livro era ser um homem que fosse mais humano, que fosse alvorada no falar, mas jamais crepúsculo no pensar.