**A FUGA DO ANJO**

Havia, no Céu, um anjinho muito especial. Era um anjo-criança. Lá vivia ele na tranquila eternidade. Muito serelepe, vivia sempre a saltar de nuvem em nuvem, ou batia suas asinhas e elevava-se até os altíssimos limites celestiais.

Certa vez, percebeu que já conhecia todas as nuvens e havia voado por todos os permitidos espaços. Começou, então, a sentir um certo tédio de repetir sempre as mesmas façanhas, junto com outros anjinhos. Decidiu ir até a bilblioteca, a procura de algo que lhe despertasse o interesse. Lá, chamou-lhe a atenção um livrinho cuja capa estampava um menininho vestido de príncipe. Pegou-o e começou a ler , ininterruptamente, até a última página. Nunca havia ele imaginado que existisse um espaço exterior, e mais ainda, que era possível por ele viajar. Puxa, que coisa fantástica isto seria, existiam outros lugares, como asteróides, estrelas e planetas... tudo que ele jamais vira. A idéia de tudo conhecer fixou-se em seu pensamento; passou a viver imaginando aventuras. De outra feita, o contador de hitórias da biblioteca narrou uma diferente história, real, do próprio filho de Deus, que, misteriosamente, fez-se humano, sofreu muito num planeta azul chamado Terra, com uma difícil missão de regenerar os que lá viviam. O fato que mais o impressionou não foi o glorioso final desta história, com a volta d'Ele, adulto, para a casa do Pai. O mais incrível para este anjinho curioso era que Ele, o filho de Deus, nasceu criança, como ele próprio se imaginava. Em sua cabecinha juntaram-se ambas as histórias...Ele começou a pensar numa forma de escapulir e aventurar-se por este tal planeta, mas não para repetir aquela história, e sim para fazer a sua própria; afinal ele era apenas um anjinho peralta. Porém, todo o Céu era cercado por espessas nuvens, como escapar? Muito pensou a respeito; já não mais brincava de pular ou voar... O que voava era seu pensamento, com a ingênua idéia de uma possível fuga que não desagradasse a Deus. Acontece que havia lá também uma linda pomba branca, sua amiga, com quem muito brincava e costumava conversar. Foi então até ela e contou-lhe seu desejo. A pomba teve um grande impacto ante os olhos suplicantes daquele pequeno anjo. Fizeram uma acordo: ele poderia ir se conseguisse encontrar uma saída: guardaria segredo mas ela não poderia ajudá-lo. O pequeno, desde este momento, passou a procurar alguma possível existente brecha entre as nuvens. Era uma incessante busca, um sonho a perseguir. Vasculhava, vasculhava, e nada...Até que houve uma grande ventania, que agitou as nuvens fortemente. Ele ficou atento e...vislumbrou uma pequenina fresta! Fechou bem as asinhas, encolheu-se e por ela conseguiu passar!

Estava agora lá fora, num vastíssimo espaço a ser explorado. Como pulava muito bem, foi saltando de estrela em estrela na imensidão do infinito. Um cometa assustou-lhe, quase o pegou. Visitou também asteróides e galáxias, para ver se encontrava o principezinho do livro. Nada... Onde ficaria o planeta azul? Viajou então pelos raios de luz de muitas estrelas, tudo observando atentamente , até que...

O planeta azul! Era aquele, sem dúvida! A partir deste instante, seu sonho conduziu-o em misterioso final de viagem. Percebeu-se em local absolutamente escuro, perdera suas asas e se tornara minúsculo. Estranho, pensou ele, eu fazia outra idéia deste planeta... Mas como estava confortável e quentinho, acomodou-se e dormiu muito, acordando volta e meia e esticando bracinhos e perninhas...humanas. Sua intuição lhe dizia que em pouco tempo ele sairia daquele lugar...E foi lá dentro de sua feliz mamãe, que ele nem sequer imaginaria que isto pudesse existir,que teve a consciência de ser realmente humano. Até que um dia, viu-se de lá retirado para a plena luz, tão forte que ele nem conseguia abrir os olhinhos para ver os que o pegavam com tanto amor, nem o brilho do olhar de sua mãe e avós. Sua memória havia se apagado completamente, nenhum pensamento formado, nenhum passado, somente um futuro no qual, como sonhado enquanto anjo, ele começaria como criança a crescer, amado e descobrindo mil coisas a cada dia, com infinitas possibilidades de brincar com a vida...

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PS. Esta é a história do nascimento de meu sobrinho-neto, hoje com duas semanas, que dorme e chora,como qualquer bebê, mas algo nele me diz que ele ainda se assemelha a um anjo... Que seja feliz, já que ele havia decidido mergulhar no mistério da VIDA...

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gajocosta
Enviado por gajocosta em 23/10/2011
Reeditado em 04/01/2012
Código do texto: T3294267
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