Loucuras Lúcidas
Sua voz sussurro em tom silente.
- Uma dose de ante-realidade!
- Com gelo? Indaga...
- Não... Apenas uma dose dupla...
No palco do cabaré o Sarcasmo canta vidas insones e imberbes ouvidos perdidos saem do mundo das sedas de pano. O artificial lívido no ar é oxigênio dos alheios olhares tristonhos. É uma arte fulgir da realidade. É uma arte ser falso perante um espelho de faces externas próprias.
A vida era vivida como a água inebriada... Tão comum e necessária como um vicio. Uma simples fantasia é um cálice de sonho virgem ainda não morto ou suplantado por tudo aquilo que o cerca. A Felicidade personificada dançava em círculos invisíveis e a cada toque se distanciava de todos os outros. Era um espectro, irônico e desejado.
- Onde anda o Sonho?
- Nunca o vimos, apenas dissemos que o vimos, para atrair quem almeja vê-lo...
A Noite era eterna. A lua vasta, olho sombrio do céu. As nuvens, fumaças intocáveis no vento e as estrelas, luzes mortas no véu escuro infinito...
- E o Amor?
- ...O Amor...
- Sim...
- Trucidado...
- Como?
- A Dor... Ambos se apaixonaram como rosa e espinho sangraram por séculos por entre suas línguas de vidro... Retalhou-se algo... E por fim a Dor matou-o involuntariamente...
O Sarcasmo despedisse da platéia... Com uma grande piada...
- O que é tão disfarçado que pensa ser real como uma máscara ilusória no eco de um reflexo murmurado?
...Silêncio...
- O Homem...
A platéia lacrimeja pela boca os dentes de modo demente, sorri até chorar, decaída no chão com agonia no ventre, perfumada de escárnio e mentiras...
- E a Esperança?
- Bom... Ela ainda não nasceu... Sua mãe Liberdade está gestante faz Eras...
- E a Desesperança?
- Não a vê? Está nos olhos de cada qual...
Por fim o Caos adentrou o cabaré... E disse em tom a ser ouvido por todos...
- Trago uma legião nos lábios... E o Fim nos olhos... Seja bem vindo ao Nada...
A noite curvou seu disfarce e tudo virou essência de coisa alguma e suas Loucuras Lúcidas...