"SETE REAIS" Conto de: Flávio Cavalcante

SETE REAIS

Conto de:

Flávio Cavalcante

Era um jovem rapaz que morava numa rua pacata e tranquila em um bairro do Rio de Janeiro. A fama dele corria no bairro inteiro por ser um cara metido á esperto, que gostava de passar a perna em todo mundo do lugar. Diziam que ele com o passar do tempo ficava rindo do feito, como se ele tivesse ganhado o grande troféu em sua vida. E o seu grande prazer era catar um otário pra ele se dar bem. Só que nem todo dia é da caça e o caçador também tem o dia de sua glória.

Já estava se tornando uma rotina nada agradável; pois o conhecido 171, assim como era chamado já estava extrapolando qualquer limite de sua vigarice. O bairro inteiro já esperara o glorioso dia da tão esperada derrota. O safado já perdera o limite do medo e fazia aquelas atrocidades de forma natural.

Certo dia, numa manhã bem ensolarada, era por volta de onze horas da manhã, na mesma rua que o dito cambalacheiro morava, onde também, morava um ancião muito conhecido no lugar. O senhor Célio. O velho vinha segurando algumas bolsas de compras, que vinha se rastejando com aquela carga bastante pesada para a sua idade. O sol estava á pino e a pressão da temperatura, refletia no rosto e na roupa do senhor, que derramara alguns mililitros de suor.

Bastou o conhecido malandro ver o sofrimento daquele pobre homem, para ele educadamente pedir para levar as suas bolsas até a sua casa, no qual recebeu um não, pois, o velho já conhecera bem a fama do dito rapaz. Bastou-lhe um belo não como resposta, para o velho receber uma verdadeira cerimônia de insistência. O malandro passava praquele homem que o não dele, estava sendo uma fronte perante a sua educação. E o velho , mesmo sabendo da sua fama, resolveu dar uma oportunidade, já que ele insistia tanto. O dito “malandro” segurara firmemente as suas bolsas e saiu em direção á casa do tio desconfiado para fazer a presença de uma cidadania, ajudando os mais velhos. Não sabia o seu Célio, já debilitado pela sua idade, que iria ter uma transformação da água para o vinho em sua vida, por causa dessa ajuda interesseira.

Chegando á sua residência, o anoso pôs as comprar para o lado de dentro do muro de sua casa e como já conhecia a fera pela sua fama, acabou perguntando.

- QUANTO EU LHE DEVO?

(Disse o velho querendo ser o mais correto e educado possível).

- (Dando uma de quem ficou chateado com a atitude de seu Célio). Que é isso, seu Célio... Não custou nada para eu dar uma ajudinha; pois, eu vi que o senhor estava no sufoco. Eu resolvi ajudar, só isso.

O Célio resolveu dar um voto de crédito ao rapaz, agradeceu e fechou á porta da sua casa, mas ficou com uma pulga atrás da orelha, porque em seu íntimo aquela educação toda daquele rapaz famoso no bairro iria lhe custar alguma coisa e começou logo a preparar todas as armadilhas para a hora tão esperada. O Célio foi esperto, coisa que muitas pessoas no mundo não têm a mesma malícia e acaba caindo em golpes, tipo contos do vigário e outros até bem mais graves, tipo sequestros e etc.

Aconteceu o que Célio estava esperando. Antes de meia hora do ato do rapaz caridoso, Célio ouviu a campainha de sua casa tocando insistentemente, e quando Célio atendeu pelo interfone, conheceu logo a voz do dito rapaz.

Oi, seu Célio... Sou eu.

Célio abriu a porta e estava aquele rapaz com a cara penosa, como se tivesse vindo de um velório. Realmente era de fazer dó a cara do safado. Mas Célio também já se preparara para aquela cena que mexe com os sentimentos das pessoas. Aliás, todo vigarista tem cara de bonzinho ou carrega um JESUS embaixo do braço na intenção de sensibilizar suas vítimas. Não foi o contrário com o Célio.

Olhando de lado sem encarar, meio desconfiado, começou a expor sua vida nada fácil para o anoso, que ouvia atentamente admirado com cinismo do cidadão que fez toda uma cena pra no final pedir emprestado dez reais, que segundo ele seria para comprar o leite do seu filho que estava em casa chorando com fome. E disse que Jesus tava vendo que ele estava falando a verdade e que o santo ia dar em dobro pela confiança do seu Célio com relação a ele. Como o valor foi insignificante e até pra pagar a ajuda que ele deu em levar suas bolsas de compras até sua casa, o senhor Célio meteu a mão no bolso para pegar os dez reais, mas lembrou de imediato que dispunha naquele momento de sete reais; mesmo assim o ofereceu. Pegando aquela mísera quantia, o rapaz fez aquela cara cínica de alegria e agradeceu prometendo pagar no dia seguinte, relatando que ia receber um dinheiro e sem falta iria pagar ao Célio. Acordado o combinado o rapaz saiu e nunca mais Célio voltou a vê-lo por ali, pois o vigarista passou a evitar passar pela rua e quando passava baixava a cabeça como um cachorro que fez alguma travessura e sabe que seu dono não vai gostar.

Célio resolveu publicar o fato num jornal do bairro e logo que circulou, virou notícia até em Tv local, por causa dos sete reais. Nunca passou pela cabeça, nem do Célio e nem do cambalacheiro que aqueles sete reais fossem dar tanto ibope. Se sentindo ofendido pela população, que o xingava toda vez que o encontrava em algum lugar, o dito desonesto resolveu tomar satisfação com o Célio e nisso gerou uma confusão que resultou o caso na delegacia do bairro e depois que o velo Célio comentou com o delegado o que havia acontecido e outras vítimas, vendo a mídia circulando a notícia do golpista de sete reais, assim como ele ficou famoso, resolveram também ir cobrar. A partir daí, parece que o baú da podridão do azarado foi quebrado o cadeado e tudo de errado que o safado havia feito veio á tona, deixando-o por muito tempo na prisão.

TUDO POR CAUSA DE SETE REAIS.

Flávio Cavalcante

Flavio Cavalcante
Enviado por Flavio Cavalcante em 17/10/2011
Reeditado em 17/10/2011
Código do texto: T3282072
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