O SILÊNCIO

A eternidade parecia um momento e tudo, até os mínimos gestos, era registrado no inconsciente. Os dias, os meses, os anos, passavam voando em um único instante; tudo era saudade, tudo era desencanto, nada fazia sentido.

A dor, prerrogativa daquele momento, denunciava o sofrimento, a ausência, o vazio na alma...

O tempo se esvaia em passos lentos e parecia se arrastar em detrimento da urgência daquelas emoções. As feridas do corpo perpassavam a alma, fustigando incessantemente um coração fragilizado...

Assim era a vida de Suzana. Alguns a encorajavam a reagir, fugir daquela prisão sem grades visíveis; outros a condenavam sem piedade. Ela encontrara, afinal, o que fora buscar.

Seus pensamentos, alheios a o tudo que se passava no mundo exterior, vagavam sem direção, dispersos e, ora repousavam naqueles raros dias felizes, ora se agitavam, inquietos na angústia de não saber voltar.

Ah, se por um breve instante o tempo pudesse voltar, se o passado pudesse ser modificado, se as suas atitudes fossem outras...

Suzana fora uma escritora de sucesso. Isso porém, fora o início do seu fim. Imersa em seus livros, em suas histórias fantásticas, ela foi, pouco a pouco, perdendo o contato com o mundo exterior. Os amigos, a princípio insistentes, foram sumindo. Os convites para reuniões de fim de tarde que, um dia fizeram parte da sua rotina, foram gradativamente diminuindo até se extinguirem por completo.

A ela, tudo o que restara foram uns poucos telefonemas, aos quais ela respondia com monossílabos. Já não havia calor humano em seu lar. Tudo se esvaía e parecia desmoronar ao seu redor. O espelho imenso, última lembrança sólida de um tempo glorioso, parecia registrar os seus passos lentos. Ela via o seu reflexo, porém já não se reconhecia mais. Era apenas um pálido rascunho do que fora um dia...

A falta de comunicação com o mundo exterior, a ausência de sons, o silêncio no qual escolhera viver, causaram uma ruptura em sua alma... Ela agora não era una, indivisível como afirmara em um de seus poemas. Fora fragmentada em milhões de estilhaços, como se uma bomba a tivesse atingido em cheio. E cada um desses estilhaços vivia agora em mundos paralelos que existiam apenas em sua imaginação.

Queria falar, os sons haviam fugido. Os gritos de dor, de indignação, de desprezo por si mesma só alcançavam a sua mente. Ela emudecera, talvez para sempre. Estava reclusa em seus mundos imaginários. Estava reclusa em seu leito branco, surdo, mudo e alheio aos desejos de sua alma. Estava, enfim, como desejara viver: no mais completo silêncio...