Fundo da América do Sul Parte 17
Adormeci com todas aquelas morfinas... E lembrei do Exército...
...Fomos para uma manobra em São Jerônimo, e claro estava na infantaria que já é uma das piores armas do exercito! Pulamos em assalto de um helicóptero em um morro que tínhamos que tomar do inimigo eu como atirador da MAG pulei junto com a arma até hoje não sei como não me matei com o peso da arma! Passamos um dia inteiro cavando uma trincheira em forma de ferradura para colocarmos a metralhadora na posição correta no moro; a noite caiu um baita temporal, nos tapamos com as capas de chuva umas emendadas nas outras, ai alguém acendeu um baseado! Foi meu primeiro contato com droga no exercito, fumei até o final aquele baseado, e cantarolando “simpathy for the devil” me escorei na metralhadora com as pernas dentro da trincheira cheia de água e barro, meu corpo de gelado ficou sem sentido, meus lábios pareciam de manteiga em meu rosto, e começando a viagem subi no pé de um beliche, consegui me equilibrar então pulei para o nada, meu corpo se transformou em um monstro ou sei lá no que se transformou, tudo em minha volta se transformou em escuridão, com pingos de luz que pareciam estrelas chapadas na minha mente, meus movimentos eram lentos e muito rápidos, parecia que estava dentro de uma piscina dançando aquela música que não saia de minha cabeça, ouvia nada no silêncio, então meu corpo começou a crescer, fiquei gigante, eu falava, mas não me ouvia, foi quando uma imensa serpente saiu de uma caverna da escuridão, queria me devorar, minha velocidade era diferente da dela, não sabia se eu ou ela estávamos rápido ou devagar! Dava gargalhadas, meu peito era imenso então resolvi devorá-la, nos engalfinhamos numa batalha sangrenta onde dava e recebia dentadas ferozes, sangue voava por toda parte, as manchas pintavam de vermelho o preto de meu pensamento, meus caninos abarrotados de pedaços de carne eu era o “vampiro maldito”. Então quase acordado daquele inferno, acabei dando um sorriso malicioso no canto da boca, com os olhos semi-serrados e sem poder mover os braços acabei caindo para o lado no meio da lama, acho que adormeci até a manhã seguinte, quando acordei todo encharcado com uma “larica” medonha, não agüentava de fome, foi quando me dei conta que estava com os braços amarrados para trás com um arame farpado que passava pela minha garganta! Descobri que tínhamos sido pegos pelos inimigos do treinamento e éramos prisioneiros de guerra. Muita maldade passamos por nada! Pau de arara, sem comida, noites inteiras eles se revezavam para não deixar nós dormirmos, depois de sete dias com muitos mosquitos de companhia, corpo e alma encharcados, literalmente a pão e água, resolveram nos soltar no mato com uma galinha (coitada da galinha) foi devorada viva mesmo; Foi uma experiência não muito boa.
Demos graças a Deus no dia da baixa!
E juramos que os pés não colocávamos mais lá!