O bolo

A alta sociedade do fim dos anos sessenta fazia as suas festas com muito glamour, nas casas de show de maior badalação, nos bangalôs da cidade das mangueiras, porém na periferia, se fazia como se podia, se fazia a festa e algo mais. Foi assim, naquele dia 21 de maio. A vila do tira dama, como era conhecida no bairro do Umarizal, estava motivada para fazer o aniversário de três aninhos do Albertinho, que não era o Limonta da novela “O direito de nascer”, que era transmitida na rádio Marajoara, porém gozava de certos privilégios dentro de uma classe, cuja amizade era muito cultivada.

Maria, a mãe do menino trabalhava na Democrata, empresa que desenvolvia a confecção de “onças”, pequenos e pessoais embrulhos de tabacos para cigarro de palha, cachimbo ou a mastigação natural, que era naquela época uma febre. Ela que ganhava além do salário, uma reles comissão, não podia querer dar uma festa de arromba, mas como toda mãe, era uma forma de satisfazer um épico desejo, fazendo algo no aniversário do seu filho .

Assim, os vizinhos entusiasmados e vendo o sacrifício da mãe do menino resolveram cada um contribuir com uma comidinha. Dona Clarice e sua filha Darci faziam os docinhos, dona Maria e suas filhas, Celeste e Laura, os pasteizinhos, dona Marlene, dona Argentina e dona Carmita se empenhavam em fazer bolo de macaxeira, tacacá, Caruru, vatapá e a maniçoba, o senhor Orlando se preocupava com a vitrola e a energia elétrica, dona Guiomar, as mãos de fada da rua Bernaldo Couto, a senhora conhecida no bairro por suas habilidades com bolo, se solidarizou por causa do favor feito, o conserto de sua porta, executado pelo senhor Benedito avô do menino se responsabilizou pelo bolo do aniversariante. Afonso, Carlinho e a dona Wilse avó e tios providenciavam patos e galinhas no tucupi com jambu, enquanto a mãe do Albertinho se virava fazendo o Q – suco, procurando na taberna do senhor Bené as velas de três anos para ornamentar melhor o bolo. O fato foi que cada convidado resolveu contribuir com alguma coisa e fazer daquele dia uma grande festa na vila.

No meio de todo aquele entusiasmo, quem deu menos, se insurgiu com a idéia de ter ouvido na rádio uma promoção, onde quem fizesse uma mensagem de aniversário ao aniversariante e levasse na emissora participaria de um sorteio ao final do programa de uma grade de refrigerante. Apesar da falta de otimismo de alguns, né, que o Albertinho foi o grande sorteado. Isso veio a contagiar mais os vizinhos, que empolgados já não viam a hora dos parabéns, antecipar às seis horas.

Tanto que lá pelas cinco os convidados começaram a chegar, dona Lurdes, dona Adelaide, senhor Curuçá, senhor Djalma, dona Jacira e seu Manoel, dona Mariazinha, dona Panfila, dona Elali, o pessoal da redondeza... a casa inchando e nada do bolo aparecer. Já desconfortável com as horas, dona Maria pediu que o senhor Orlando fosse a casa de dona Guiomar ver o porquê da demora. Lá chegando, ele notou algo estranho e sem saber o que dizer em sua volta o senhor Orlando achou por bem ir a sua casa se vestir e só chegar na hora do comes e bebes. Quando chegou as cinco e meia chegou o refrigerante... os presentes em abundância iam formando uma pirâmide diante do menino, que mal entendia a festa, visto que aquela era a primeira de sua vida.

E antes de ir um novo batedor à casa de dona Guiomar, Orlando foi denunciado por sua esposa, justamente quando todos se perguntavam pelo bolo.

O rapaz, contou que a casa da boleira estava fechada. Tomado de ímpeto, o avô do menino se voluntariou a ir na casa de dona Guiomar, quando se perceber foi seguido por toda aquela multidão, mais ou menos umas cinquenta pessoas a caráter para o aniversário se juntaram e foram até a casa de dona Guiomar exigir o bolo.

Que bolo que nada, a mulher deu um grande bolo, estava intocada. E quando pelas frestas, e quando pelos seus ouvidos ouviu o murmúrio daquela multidão batendo nas suas portas e reclamando, gritando... fazendo barraco, querendo uma justificativa, mais do que depressa, carregou seu filhinho de colo, pulou a cerca e no desespero, com medo de ser talvez linchada acabou caindo num quintal que era um pantanal. Assustado a criança de colo começou a chorar, nervosa a mãe não conseguia sair do lugar, ia aos poucos afundando, foi ai que o povo, se compadeceu e alguns homens entraram na água para ajudar. Mais tarde, tudo deixado prá lá, as sete horas da noite é que foram cantar o parabéns, com a musica do carequinha saindo da vitrola, cantada na rádio ao vencedor das grades de refrigerante. Quando o povo começou a também entoar, quem pensava que as surpresas paravam por ai, eis que o aniversariante, talvez espantado com tanta gente resolveu se acomodar em baixo da mesa, ai ninguém mais aguentou e foi só rir e dançar até o domingo chegar.

O bolo

A alta sociedade do fim dos anos sessenta fazia as suas festas com muito glamour, nas casas de show de maior badalação, nos bangalôs da cidade das mangueiras, porém na periferia, se fazia como se podia, se fazia a festa e algo mais. Foi assim, naquele dia 21 de maio. A vila do tira dama, como era conhecida no bairro do Umarizal, estava motivada para fazer o aniversário de três aninhos do Albertinho, que não era o Limonta da novela “O direito de nascer”, que era transmitida na rádio Marajoara, porém gozava de certos privilégios dentro de uma classe, cuja amizade era muito cultivada.

Maria, a mãe do menino trabalhava na Democrata, empresa que desenvolvia a confecção de “onças”, pequenos e pessoais embrulhos de tabacos para cigarro de palha, cachimbo ou a mastigação natural, que era naquela época uma febre. Ela que ganhava além do salário, uma reles comissão, não podia querer dar uma festa de arromba, mas como toda mãe, era uma forma de satisfazer um épico desejo, fazendo algo no aniversário do seu filho .

Assim, os vizinhos entusiasmados e vendo o sacrifício da mãe do menino resolveram cada um contribuir com uma comidinha. Dona Clarice e sua filha Darci faziam os docinhos, dona Maria e suas filhas, Celeste e Laura, os pasteizinhos, dona Marlene, dona Argentina e dona Carmita se empenhavam em fazer bolo de macaxeira, tacacá, Caruru, vatapá e a maniçoba, o senhor Orlando se preocupava com a vitrola e a energia elétrica, dona Guiomar, as mãos de fada da rua Bernaldo Couto, a senhora conhecida no bairro por suas habilidades com bolo, se solidarizou por causa do favor feito, o conserto de sua porta, executado pelo senhor Benedito avô do menino se responsabilizou pelo bolo do aniversariante. Afonso, Carlinho e a dona Wilse avó e tios providenciavam patos e galinhas no tucupi com jambu, enquanto a mãe do Albertinho se virava fazendo o Q – suco, procurando na taberna do senhor Bené as velas de três anos para ornamentar melhor o bolo. O fato foi que cada convidado resolveu contribuir com alguma coisa e fazer daquele dia uma grande festa na vila.

No meio de todo aquele entusiasmo, quem deu menos, se insurgiu com a idéia de ter ouvido na rádio uma promoção, onde quem fizesse uma mensagem de aniversário ao aniversariante e levasse na emissora participaria de um sorteio ao final do programa de uma grade de refrigerante. Apesar da falta de otimismo de alguns, né, que o Albertinho foi o grande sorteado. Isso veio a contagiar mais os vizinhos, que empolgados já não viam a hora dos parabéns, antecipar às seis horas.

Tanto que lá pelas cinco os convidados começaram a chegar, dona Lurdes, dona Adelaide, senhor Curuçá, senhor Djalma, dona Jacira e seu Manoel, dona Mariazinha, dona Panfila, dona Elali, o pessoal da redondeza... a casa inchando e nada do bolo aparecer. Já desconfortável com as horas, dona Maria pediu que o senhor Orlando fosse a casa de dona Guiomar ver o porquê da demora. Lá chegando, ele notou algo estranho e sem saber o que dizer em sua volta o senhor Orlando achou por bem ir a sua casa se vestir e só chegar na hora do comes e bebes. Quando chegou as cinco e meia chegou o refrigerante... os presentes em abundância iam formando uma pirâmide diante do menino, que mal entendia a festa, visto que aquela era a primeira de sua vida.

E antes de ir um novo batedor à casa de dona Guiomar, Orlando foi denunciado por sua esposa, justamente quando todos se perguntavam pelo bolo.

O rapaz, contou que a casa da boleira estava fechada. Tomado de ímpeto, o avô do menino se voluntariou a ir na casa de dona Guiomar, quando se perceber foi seguido por toda aquela multidão, mais ou menos umas cinquenta pessoas a caráter para o aniversário se juntaram e foram até a casa de dona Guiomar exigir o bolo.

Que bolo que nada, a mulher deu um grande bolo, estava intocada. E quando pelas frestas, e quando pelos seus ouvidos ouviu o murmúrio daquela multidão batendo nas suas portas e reclamando, gritando... fazendo barraco, querendo uma justificativa, mais do que depressa, carregou seu filhinho de colo, pulou a cerca e no desespero, com medo de ser talvez linchada acabou caindo num quintal que era um pantanal. Assustado a criança de colo começou a chorar, nervosa a mãe não conseguia sair do lugar, ia aos poucos afundando, foi ai que o povo, se compadeceu e alguns homens entraram na água para ajudar. Mais tarde, tudo deixado prá lá, as sete horas da noite é que foram cantar o parabéns, com a musica do carequinha saindo da vitrola, cantada na rádio ao vencedor das grades de refrigerante. Quando o povo começou a também entoar, quem pensava que as surpresas paravam por ai, eis que o aniversariante, talvez espantado com tanta gente resolveu se acomodar em baixo da mesa, ai ninguém mais aguentou e foi só rir e dançar até o domingo chegar.