Silenciosa

Já era tarde da noite, ela observava a lua pela janela entreaberta. A brisa fria de outono soprava levemente as cortinas, embalando também seus pensamentos. O único som era o de sua respiração, e as batidas de seu coração, um pouco fora de ritmo. Fechou os olhos numa tentativa vã de calar seus pensamentos desordenados e uma lágrima escorreu em sua face direita.

Sentia que aquela dor conhecida estava querendo se instalar em seu peito novamente. Sentou-se na beira da cama, seu corpo estava frio. Sentiu sua pele se arrepiar. Caminhou até a janela e a fechou, como se aquilo também pudesse fechá-la, voltar a trancafiá-la em seu próprio mundo, uma forma de proteção.

Um pequeno filme começou a passar em sua mente, e por mais que empurrasse essas lembranças para longe, elas voltavam se arrastando, como se cravassem suas garras em seu corpo, trazendo de volta todas as sensações já vividas.

Eram suas vidas, seus momentos, mais suaves e mais intensos. As batalhas disputadas, as cabeças cortadas, o sangue manchando a terra. Ela cerrou os punhos, sabia que havia brandido sua espada durante épocas e épocas, incansavelmente.

Mordeu os lábios, para não gritar, as cenas continuavam a invadi-la, tomando conta de seu ser, que agora se contorcia e não mais lutava contra as lágrimas.

Os gritos, as lamentações, e a culpa.... a culpa pelo prazer que sentira em cada vida que ela tirou no campo de batalha. Um sorriso, um lampejo passou por sua face. Ela sabia que lá no fundo.... apenas fez o que foi ensinada. E continuou a fazer, pois era o que mantinha a chama ardendo dentro de si.

Adriana A Bruno
Enviado por Adriana A Bruno em 08/10/2011
Código do texto: T3265603
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