O CAVALO DA VIDEIRA

Algo surge de trás daquela arvore de Netunos. Marrom orelhas grandes, nariz enorme e olhos arregalados. Parece furioso ao olhar para os netunos maduros e suculentos – azuis turquesa são suas cores. Aponta irado, chacoalhando o dedo com expressão funesta a um netuno encurralado. Nada lhe resta que se não desprender-se de seu galho e gravitacionalmente morrer, derramar-se no chão, sendo sugado pelo solo. Parece que os netunos estão perdidos!

Do topo da arvore um netuno se pronuncia:

- Meu caro senhor de pelos, qual sua graça e desgraça, por obsequio?

- A graça é que acabarei com todos os netunos e a desgraça é apenas de vocês! Apresento-me, Ulisses, seu mal-agouro.

Netunos eufóricos, chorando suas mortes.

Netuno Netuno Netu, suicida sem sucesso. Cai e se põe a rolar a uma videira carregada de frutas de Hades.

Netuno Netuno Netu fica de frente aos hades e com brutal força do pensamento, transmite mensagens de socorro em suas partículas de água que espiraram em um hades maduro, quando explodiu de felicidade ao tentar ajudar os outros netunos.

Hades Adolfo grita em freqüência ‘Troinar’ ao chamado de seu amigo Eqüino, um cavalo pangaré muito por fora, que atende seu chamado rapidamente.

Ulisses Mal-Agouro encurrala outro netuno indefeso, que chora em suas peludas mãos de urso ao ser ‘agüiquilado’. Com a chocante cena, um netuninho ainda verda, entra em desespero. Ulisses o peã com delicadeza e compaixão, afinal, é apenas um netuninho inofensivo. A frutinha sorri para Ulisses, que ao ver esse sorriso de plasma esmaga-o contra o tronco de seu próprio Netuneiro.

Todos já esperam lentamente seu fim. Vem surgindo Eqüino, sorridente. Pára diante dos netunos e pisca com um só olho com tranqüilidade. Vira-se para Ulisses e diz:

- Sou um cavalo pangaré, fui dado de presente ao senhor por aquela videira ali.

- Hmm

Nesses segundos de calmaria, os hades começam a sair de trás das orelhas, escondidos na crina e no rabo. Se amontoam rapidamente sobre a sela e atacam, pulam em cima de Ulisses, que com a mínima importância, da um passo para traz. Os hades todos caem ao chão virando suco.

Lá se foi a ultima esperança dos netunos.

Ulisses lança olhar demoníaco aos frutos-azul-turquesa. Baba, espuma pela boca. Está preste acabar com todos netunos. Treme de excitação, o sangue ferve em suas veias de metal. Quase agarra um netuno ancião quando é atingido por um raio esculpido em ouro, que o mata instantaneamente.

Netunos felizes, contentes, cantam, festejam seu mal agouro agourado de baixo de uma tonelada de ouro em forma de raio.

E os netunos viveram felizes para sempre!

Mentira! Teriam sim, vivido felizes para sempre, se não fosse Éolo, com tanta pressa ao passar ao lado da arvore de netunos.

Um vendaval! A arvore toda se transforma em água quando é arrancada e cai ao chão pelo furioso vento.

Ninguém sobrou para contar historia. Somente Homero, pode assim, nos contemplar.

Ana Júlia Marcato
Enviado por Ana Júlia Marcato em 06/10/2011
Reeditado em 24/05/2012
Código do texto: T3261712