espera
Aquele ambiente chuvoso era o convite. Um chamado especial para que o dia passasse vagarosamente, assim como os pingos de chuva que antes de cair ao chão pousam, at passant, pelas pétalas de uma rosa.
Ela estava sentada no penúltimo degrau da escada da varanda, com as pernas longamente esticadas para que a água do telhado lhe molhasse os pés. A chuva fria gelava, a pela e a alma, tanto quanto pela saudade do capitão, o que à fazia pensar que chuva, nem de longe, pode ser água, já que água é insípida, inodora e incolor, enquanto a chuva tem cor de inverno, cheiro de mato e gosto de reclusão.
Eram tempos de guerra e a necessidade do exército refletia, diretamente, na sua solidão. Dois meses haviam sido soterrados por dias inteiros de lembranças e saudades, sozinha naquela casa, sobre a serra, aos pés do céu. As notícias da guerra chegavam ao longe, sem muita precisão, das conversas dos empregados trazidas à reboque das idas à cidade para compras e vendas.
Sua imagem, adorada quase quanto à madre, era a esposa daquele que, certamente, traria a vitória para aquele povo que, na torcida, ansiava muito o fim da guerra – mas não tanto quanto ela. Isso tudo lhe implicava um medo intangível. Se aquela guerra fosse perdida, provavelmente seu amor também o seria. Um capitão derrotado é o mesmo que um homem morto. Conhecia até uma frase apregoada pelo capitão de que “há mais honra na morte do que na desvalia”.
Mas enquanto a guerra não findasse e as notícias se escondessem o melhor a fazer era deixar a chuva molhar dos pés ao coração.