COMO VIVEREI SEM TI?

Como viverei sem ti? Linda declaração de amor. Ou será uma despedida? Luna, encantou-se ao ler, absorvendo cada palavra como se fosse um biscoito de mel acompanhado de um saboroso caldo de cana:

“Como viverei sem ti?

Desde este fatal momento

Que a tua vista perdi

Abismado na tristeza

Como viverei sem ti?

Cuidados consumidores

Só no teu peito senti

Se só com o ver-te me alegro

Como viverei sem ti?

Quanta ausência custaria

Certamente não previ

Hoje por ti suspirando

Como viverei sem ti?

Como esposa, amante e terna

Sempre seus passos segui

Hoje a longa distância

Como viverei sem ti?”

Ao concluir, viu que o autor era Manuel Luís Osório e que ele havia escrito o poema ao tomar conhecimento que Chiquinha, sua amada e querida esposa Francisca, havia morrido.

Lágrimas escorreram de seus olhos e imaginou-se no lugar de Francisca que nunca leria o poema. Como fatos assim poderiam chocá-la tanto? Não sabia responder. Questionava-se e em tudo buscava as respostas.

Continuando sua pesquisa sobre o Rio Grande do Sul, suas figuras históricas, locais, trajetórias de exércitos, movimento separatista, Luna deparou-se com a existência do Parque General Osório, na cidade de Tramandaí-RS. Resolveu visitá-lo em busca de enriquecimento à sua tese. Lá chegando, após conhecer as dependências do parque, mais admirada ficou ao conhecer detalhes da vida deste importante vulto da história riograndense. Mas um dos aspectos que mais lhe chamou a atenção foi a proximidade de sua casa, que ficava no referido parque, com a Lagoa dos Barros hoje pertencente ao vizinho município de Osório. Veio-lhe a mente as lendas da lagoa, o trajeto dos farroupilhas, as distâncias percorridas a cavalo ou em carroças puxadas por junta de bois. Como poderia um bravo guerreiro, sair a desbravar o país em busca de conquistas e deixar de viver pacatamente com sua famíia ao lado de tamanha beleza natural. Mas a saga por vencer estava no sangue. Lutar por um ideal que a muitos beneficiou, pois ele em sua juventude era defensor dos ideais republicanos, mas durante suas investidas militares tornou-se partidário ao monarquismo recebendo importantes títulos no decorrer de sua vida, entre eles o de Barão de Erval (1866), Visconde do Erval(1868) e Marquês do Erval (1869).

Absorta em seus pensamentos, sentada ao chão sob um lindo Ipê-roxo Luna não viu aproximar-se um grupo de visitantes que ali estavam. Uma moça, jovem, interrompendo seus pensamentos apresentou-se dizendo que a estava observando e sentiu o interesse dela quando estavam visitando as dependências da casa, hoje museu. Sim, respondeu Luna, tudo isto me atrai, além da curiosidade em conhecer os elementos importantes que fizeram a história de nosso estado, sinto como se também tivesse participado de alguma forma. Não sei explicar. Creio que posso te auxiliar no que for pertinente ao passado, pois sou bisneta de um comandado e intimo amigo dele. Chamo-me Anna, em homenagem a um amor da adolescência do General, musa inspiradora de seus primeiros poemas. Mas, Francisca, sua esposa, foi quem deu a ele o amor e a força necessários para que ele se tornasse brilhante e enérgico batalhador. Um dos fatos ocorridos, conforme contava meu bisavô, foi que "certa vez na corte, ao despachar junto a outros ministros, Osório percebeu que D. Pedro II cochilava sem prestar atenção aos discursos dos mesmos, e em um estado de fúria, deixou seu sabre cair no chão. O imperador despertando e dirigindo-se a ele disse: Acredito que o senhor não deixava cair suas armas quando estava no Paraguai, marechal. Não, majestade, respondeu, mesmo porque lá nós não cochilávamos em serviço". Sete anos depois do fim da guerra, foi chamado pelo imperador a ocupar uma cadeira no senado e promovido ao posto de marechal-de-exército. Em 1878, foi nomeado ministro da guerra, permaneceu no cargo até a morte. Era um homem simples, nada aristocrático, que se dava bem com os soldados e, assim como eles, estava sempre pronto para entrar em ação.

Assim como esta, continuou a dizer, tenho várias anotações, como também algumas cartas e poemas seus enviados ao seu grande amigo, meu bisavô. Poderias uma hora qualquer ir nos visitar e te mostrarei. Ótimo, respondeu Luna, com certeza fundamentará melhor minha tese e, quem sabe, em prosa narrarei a doce paixão que envolveu estes corações apaixonados.

Soninha Rostro
Enviado por Soninha Rostro em 30/09/2011
Reeditado em 12/10/2011
Código do texto: T3250241