Ana Carolina

Ana Carolina, tão feliz e tão soberba. Sorri e diz “bom dia” como se todo dia fosse bom o bastante para ser desejado. Não discute e não interrompe; não resmunga nem grita; o tom da voz, em fá maior, é sempre espontâneo e sonoro quanto os olhos que piscam pelo único motivo de umedecer o olhar que, de perfeito que é não chora.

Ana é bacana e Carolina uma menina. Levada e volúvel, perfeita e mimada. Nem muito nem pouco, mas o bastante para ser ou não amada.

Mulheres bonitas, sempre bem vindas, são cobras traiçoeiras e são detestadas pelas mulheres bonitas. E a beleza de Ana Carolina é destas que convidam e afugentam… silenciam e orquestram…

Ninguém a odeia tanto quanto ama. Ela é horrorosamente bela e raivosamente singela. É unânime o fato de se não gostar dos felizes. Estes sem-problemas não têm o que fazer e, por isso mesmo, entendiam os ocupados.

Ana Carolina assovia. Bate os pés no chão em ritmo compassado, em solo despreocupado e é chamada nos corredores de “a rainha do sapateado”. O sapateado que como Ana Carolina ultrapassa os limites do definível, pois é mais que dança – faz barulho, e é mais que música – pois dança…

Um dia, certamente, levantará da cama e apoiará o pé esquerdo no chão antes do direito e, ato contínuo, terá um dia daqueles.