ESCREVER PARA VIVER
Aos olhos de todos, João era um ser comum; jovem simples de família modesta, que com muitos sacrifícios, conseguiu galgar seus objetivos: estudar e conquistar um emprego digno. Bom moço, pensava em ajudar aos seus pais, que tinham por ele tanto zelo.
A mão de Deus acariciou os objetivos de João e seus sonhos foram realizados. Conseguiu formar-se, tornando-se professor de Língua Portuguesa e, para sua grande alegria, especializou-se em sua área. Profissional dedicado, sempre dando o melhor de si para contribuir com sua parcela no mundo, que parecia ser habitado por seres bem diferentes de João. Muitas vezes ele se sentia indo em direção contrária a maioria das pessoas com quem cruzava.
Mesmo assim, ele continuava firme em seus propósitos.
João possuía uma mente extremamente inquieta que o perturbava. A palavra paz, às vezes, encontrava sinônimo no dicionário de suas memórias. De resto, só inquietude! Uma busca constante, por algo ainda indeterminado por ele. Seria loucura o que adormecia e acordava em seus pensamentos? Quanta coisa gostaria de desvendar! Deveria ser um bálsamo despertar numa nuvem branquinha, mesmo após o nascer do sol. Mas, a turbulência era sua companheira constante, apenas cochilava e logo despertava num sobressalto.
Seus pensamentos muitas vezes seguiam, a passos largos, por caminhos muitos sinuosos, o que deixava a cabeça de João envolta em redemoinhos. Parecia loucura, já que se abria um vácuo entre ele e o mundo; noutras, se distanciava dele mesmo, como se a sua alma abandonasse o seu corpo. E fora de seu corpo ficava a observá-lo com certa estranheza. Como isso doía profundamente em seu coração, chegando a ficar tão amassado, que nem conseguia sangrar para aliviar a sua dor.
E, foi assim, que João começou a tingir folhas virgens com a tinta de seu coração. Quem sabe escrevendo ele passaria a compreender o seu tortuoso interior? Sua alma se derramava cada vez que corria o lápis sobre o papel. Ela parecia uma fonte inesgotável, quanto mais escrevia mais se enchia de palavras que pulavam desordenadas em busca de um lugar para repousar.
Para João, este foi o refúgio que encontrou para tentar viver, mesmo não encontrando as respostas para as indagações coladas às paredes de sua mente.