No apagar das luzes
A cadeira de balanço no seu vai e vem repousa quase imóvel o corpo cansado, de quem a solidão o tempo se fez morar. Sonhos guardados na imaginação dançando até a exaustão sua sombra recria a metade amada. Ao som dos bandulins baila por entre as nuvens e como um anjo, cria e recria sua propria coreografia, vivendo a fantasia de bailar e ser amada.
Amor imaginário que sai das páginas já amarelas de um diário para torna-se personagem vivo de sua memória, o flutuar por entre as nuvens e o valsar inocente completa-se num compasso que a memória não esquece.
Já se vai mais um acorde e a melodia que a envolve retrocede no tempo. Por um momento as luzes do palco iluminam a passarela e no bailado o sentimento se aflora para o desfrute em mais um ato sob os aplausos dessa emoção.
Mas no apagar das luzes as sapatilhas já não deslizam mais, o peso do tempo sobrecarregam seu corpo franzino e sem forças. Desfaz-se a coregrafia, a ausência dos aplausos e a agonia do esquecimento são os maiores companheiros. Fecham-se as cortinas, no centro do palco restou-se apenas a cadeira que parecendo marcar o tempo balança tentando desacelarar o inevitável e a escuridão invade o pensamento. Uma lágrima solitária sai dos seus olhos percorre o rosto, cai ao chão e mais uma vez tudo recomeça, pois o show tem que continuar a resguardar o seu sonho...