À Procura da Felicidade

Muitas vezes descrevemos a felicidade como um sentimento. Já ouvi pessoas descreve-la como um momento.

Na minha concepção felicidade está acima desse entendimento superficial que fazemos. Felicidade consiste em um estado de espírito, todos nascem com a felicidade dentro de si. Existem momentos em que não estamos felizes, e isso não quer dizer que não somos felizes.

Sou italiana e moro na cidade de Verona meu nome é Geovana sou casada há exatamente cinco anos e dois meses. Meu marido Rafaello e eu pertencemos a uma família tradicional. Como a maioria das famílias de Verona, as filhas se casam cedo e em menos de dois anos de casadas já teem filhos. Pois bem, eu já sou casada há cinco anos e dois meses e ainda não tenho filhos. Eu e minha família somos muito religiosos e tradicionalmente uma vez ao ano vamos ao estado do Vaticano onde reside o Santo Papa.

Minha vida conjugal é um tanto turbulenta, meu marido é muito tradicional assim como toda a minha família. Todos os irmãos de Refaello já teem filhos. Vivendo em meio a essa pressão todos os dias eu e Rafaello protagonizamos intensas discussões.

Nos primeiros anos de casamento vivíamos felizes e realizados, pois namoramos desde a adolescência, nos casamos muito apaixonados.

Com o passar do tempo nosso casamento vem desgastando-se com todo esse conflito, e percebemos que já não éramos felizes como antes.

Tentamos de várias formas engravidar, fizemos tratamentos médicos e fomos desenganados. A pior notícia que pude receber na minha vida foi essa, de que eu não poderia dar ao meu marido o que ele tanto sonhava. Passei a acreditar que eu já não era feliz, vivia triste, angustiada, não sentia vontade de sorrir.

Certo dia tive um sonho, um sonho que me deixou um tanto assustada, porém muito encorajada a buscar minha felicidade.

Sonhei com Santa Inês, uma santa da qual sou muito devota, ela morreu em Roma por um motivo banal, por isso, tenho tanta consideração por ela. No sonho santa Inês me dizia assim:

— A felicidade está dentro de ti, basta que você a explore.

O que minha Santa havia me dito era exatamente aquilo que um dia eu tinha acreditado. Minha crença na felicidade se perdeu quando eu passei a ter mais dias tristes que felizes. Mas tudo que minha Santa havia me dito entrou no meu coração como um sinal. Um sinal de que dentro de mim a felicidade ainda faz morada, e que eu terei um filho. Contei para Rafaello, que teríamos um filho, ele ficou radiantemente feliz, e depois me perguntou:

— Você está grávida?

Era a única pergunta que eu temia responder, por que eu ainda não estava grávida. Então expliquei para Rafaello sobre o sonho e ele me disse que eu estava louca e esquizofrênica.

As palavras de Rafaello me feriram de um tanto, que fiquei vários dias sem comer, e pela minha fé eu tinha a convicção de que iria conceber um filho.

Meses se passaram e eu naquela expectativa de ver minha barriga crescer. Um dia percebi que crescia, foi ai que Rafaello começou acreditar que eu realmente estava esperando nosso primeiro de muitos filhos.

— Amor, está na hora de procuramos o médico para fazer o pré-natal, precisamos saber se está tudo bem com o bebê e se é menino ou menina. — disse Rafaello.

Então como ele havia sugerido procuramos o médico, e para minha surpresa o médico me disse que eu não estava grávida. Mas como poderia tal fato acontecer? Minha barriga estava grande, estava ali para que todos a avistassem. Eu daria tudo para não ter visto a face de Rafaello, ele estava tão decepcionado, eu podia ver a tristeza em seus olhos, sem contar na vergonha que ele sentiu do médico. Como isso poderia estar acontecendo? Como?

O médico disse que era gravidez psicológica e sugeriu que eu fizesse um acompanhamento com um psicólogo, mas eu tinha certeza, ele é que estava errado, minha Santa jamais mentiria pra mim eu sabia, eu tinha certeza de que carregava no ventre o meu tão desejado filho.

Quando chegamos em casa Rafaello depois de muito brigar comigo decidiu que queria o divórcio, disse que eu estava louca e que deveria procurar tratamento psiquiátrico. Depois de muito ouvir decidi falar. Falei que se não fosse pelo sonho dele, de ser pai, eu não teria ficado louca, falei que se não fosse pelo descaso dele comigo, eu não teria me visto na obrigação de engravidar. Depois de muito falar peguei minha bolsa, e com a roupa do corpo sai sem rumo.

Rafaello bem que tentou me impedir de sair, já era noite, mas eu não hesitei, saí.

Depois de muito andar e não ter chego a lugar algum, resolvi de que iria para Roma, lá tentaria encontrar a igreja que foi construída onde Santa Inês havia morrido.

Durante toda a viajem fui pensando em tudo o que estava acontecendo na minha vida, e decidi parar de pensar por um momento.

Chegando a Roma, fui imediatamente procurar a igreja da Santa Inês. Não foi difícil de encontrar, estava lotada de fiéis, e lembrei que já havia estado ali. Na verdade todos os anos eu a visitava, todos os anos quando eu e minha família visitávamos o estado do Vaticano, íamos também a Roma para visitar a igreja da minha querida Santa.

Assim que entrei na igreja percebi que a missa já estava terminando, já que não tenho para onde ir, fiquei por ali mesmo. Olhando aquelas lindas imagens, de mártires da igreja, percebi uma face conhecida. Mas não era um santo era o padre. Um semblante sereno e muito jovem parecia alguém que eu conhecia.

Quando a igreja já estava vazia, o jovem padre se aproximou de mim e perguntou:

— Que bom vê-la novamente, lembra-se de mim?

Pensei por um momento, olhei em volta para ver se era comigo mesmo. E concluí que era comigo, estávamos sós naquela imensa igreja. Mas quem será esse padre? De onde eu o conhecia? Antes que eu pudesse perguntar algo, ele perguntou:

— Geovana, você não se lembra de mim? Sou o Filippo, lembra-se agora?

Não era possível, como o Filippo, o meu Filippo tinha se tornado padre? E como estava bonito?

Filippo foi meu melhor amigo de infância, e também meu primeiro namorado. Ainda estava perplexa por tê-lo reencontrado.

Não pensei duas vezes e lhe dei um abraço bem apertado. Senti que ele ficou um pouco constrangido, mas retribuiu meu abraço de forma muito carinhosa e acolhedora, como nos velhos tempos de criança.

Então Filippo me perguntou o que eu estava fazendo ali, sozinha. Perguntou também por Rafaello. E percebi que seria tolice esconder a verdade do meu melhor amigo. Conversamos por horas na igreja.

O tempo passou de pressa e Filippo tinha que fechar a igreja, como ele sabia que eu não tinha para onde ir, permitiu que eu passasse a noite ali mesmo na igreja.

No outro dia bem cedo, Filippo me acordou com um delicioso café da manhã, e me disse que logo seria realizada a primeira missa do dia.

Durante a missa Filippo disse coisas lindas, e eu tinha certeza que eram pra mim.

Ele dizia assim:

— Muitas vezes no desespero, nós pedimos auxilio divino. Mas quando tais auxílios chegam, nós não sabemos interpreta-los e com isso sofremos. Todas as vezes que pedirmos algo a Deus ou a um Mártir da igreja, peçamos que eles iluminem nossas mentes, para que saibamos entender o que eles querem nos falar ou nos mostrar.

E fique ciente de que eles não lhe darão ou falarão o que você quer, mas sim a verdade, mas vale uma triste verdade do que uma alegre mentira.

A verdadeira felicidade você só encontra em Deus.

Quando me dei conta estava chorando no banco da igreja e muitos fiéis olhando pra mim assustados por perceberem o desespero em minhas lágrimas.

A partir daquele exato momento entendi tudo o que estava acontecendo comigo. O que Santa Inês havia me dito no sonho era pra eu buscar a felicidade que estava dentro de mim, e não que eu estava grávida, mas no meu desespero eu entendi tudo errado e agi de forma errada.

Depois daquele dia fui a Verona para pedir desculpas para Rafaello, e para minha família. Voltei para Roma e junto com meu amigo padre Felippo montei uma pastoral na igreja, que ajuda mulheres que não podem engravidar a pensarem na adoção.

Hoje não procuro a felicidade, porque ela não está perdida, não está em objetos nem em pessoas. A felicidade está em Deus. E Deus está dentro de nós.

Laura Oliveira

15/12/2010

Laura de Oliveira
Enviado por Laura de Oliveira em 23/09/2011
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