JADE

Jade não era só uma pedra rara. Era uma mulher rara.

Ela sempre quis ser prostituta. Era um desejo de menina.

Achava um charme, uma coisa fantástica aquelas mulheres faceiras desfilando, exibindo as coxas com mini-saias e meias coloridas, pelo calçadão, durante as madrugadas sinistras e frias. Os trejeitos e os beijos silenciosos fascinavam e atraíam os homens. Aí elas os manipulavam e os enlouqueciam de prazer. Eram poderosas. Passeiavam em carrões luxuosos além de recompensadas com maços de dinheiro pelo gozo transitório.

Jade realizou seu sonho. O chão por onde milhões de almas pisotearam duranrte o dia era agora seu local de trabalho. Mercadores, camelôs, banqueiros turistas, aventureiros, ladrões, modelos, veados, todos fizeram dali sua passarela durante o dia. O tablado agora estava inerte: pronto para recepcioná-la, no silêncio da madrugada.

Ela seduziria todos os machos. Despertaria a fantasia dos homens mal amados, dos jovens inexperientes, dos velhos movidos a viagra.Faria inveja às moças menos bonitas.

Queria remexer as coxas polpudas, rebolar os quadris alternadamente. Iria desfilar pelas avenidas nas noites frias. As coxas à mostra. Os homens dos carrões luxuosos a desejá-la, dispostos a pagar um maço de notas para despejar em suas entranhas durante meia hora a libido retida.

Sua fantasia iniciaria quando percebesse o jorro e o uivo dos desconhecidos. Depois que o maço de notas estivesse em sua posse a satisfação estava completa. Limparia o jorro das coxas e esperaria outro cliente.

Possuída por uma dúzia de brancos, pretos, asseados, malcuidados ela não dormiria depois da longa noitada.

Tocada por empresários, cheirada por traficantes, babada por velhos ela tentou regurgitar as torpezas ingeridas durante a noite.

O sangue coalhado estacionou na goela. A boca seca sequer articulou um gemido.

E ela caiu sobre o sofá como uma pedra bruta.

A preciosa Jade agora não era mais que um tosco pedaço de granito.