O Parquinho

Desmontaram o velho parquinho. Desmontaram-no rapidamente, assim como no dia em que ele surgiu no terreno baldio à beira da avenida do bairro pobre.Lembro do seu surgimento, uma flor que explodira de um galho seco, sabedora de sua qualidade pequena, mas de seu papel a cumprir. Um caminhão velho pintado a pincel na cor alumínio já bem descascado, uma bilheteria sobre rodas assemelhando-se a um carrinho de pipocas em tamanho maior. Balanços venezianos de cor vermelha e verde com desenhos lembrando uma simetria indígena, um dangler que ao girar monótono lembrava uma sombrinha aberta e suas correntes certamente não resistiriam a exame de segurança. O alto falante com sons roufenhos e baixa potência despejava nas imediações músicas de má qualidade, bastava uma lufada de vento mais forte e o som bailava para outro lado chicoteando o ar. Quinze tímidas lâmpadas instalavam a penumbra escusando o breu total daquelas noites frias como tímidas estrelinhas, evoladas graças à realidade de um grosso fio elétrico a sustentá-las. Anúncios com letras irregulares anunciando “Carrossel da lua”, dez ou doze crianças pobres, o único público que queria brincar e não podia.O ônibus passa peça avenida, comentários se sucedem: - Parque nojento! -Como não sei... Ainda existem essas porcarias! -Parque era no meu tempo, namorada de montão! O ônibus segue e, à última olhadela já distante, aquele mundinho desencantado de atrações se torna mais diminuto. Uma semana depois o parquinho não resiste. O proprietário sabedor que mais alguns dias ali será de fome ele e as pobres criaturas que o seguem sonhadoras, vestindo paletós e calças alheias, sempre atrás do dono como um cachorrinho de um pedinte das ruas. O parquinho desaba finalmente e voa como uma mosca pesada e quase sem vida procurando outra chaga, mais por vício do que a certeza de encontrar sobrevivência.O terreno agora desocupado parece estar agora mais baldio que antes. Constatei isso dentro do ônibus no outro dia sob o silêncio daquelas cabeças afoitas procurando através das janelas aquela coisinha. O terreno parecia chorar ao ter perdido seu brinco, seu único adorno, sua última beleza. O parquinho cumprira assim a sua melhor função...

Carlos A Funghi
Enviado por Carlos A Funghi em 20/09/2011
Código do texto: T3231256
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