A NOIVA DA LAGOA
Como pode ser isto: colocarem gigantescas rodas em barcos para serem transportados por terra, levados por juntas de bois, através de campos enlameados pelas chuvas de inverno? Por que não fizeram todo o trecho por água, uma vez que o complexo de lagoas no sul é interligado e corre paralelo ao Oceano Atlântico? Esta foi a realidade daqueles herois farroupilhas, pensou Luna ao ler uma parte da história da Revolução Farroupilha. Isto me encanta. Onde será que eu me encaixo nesta história? Não sei, continuou a pensar.
Estava fazendo uma pesquisa sobre o Rio Grande do Sul. Não demorou muito e se deparou com outro assunto abordado, sobre uma lagoa em Osório-RS, chamada Lagoa dos Barros, com suas estórias fantásticas e cheias de mistérios que encantam as pessoas pelo mundo todo, como no caso das lendas, que deliciam nossos ouvidos. Curiosa resolveu in loco verificar a veracidade das lendas. Mas para isso precisava convidar alguém para ir junto. Pretendia acampar na beira da lagoa, uma vez que a mesma tem infra-estrutura para tal. Convidou seu irmão e a noiva para acompanhá-la. Seria um final de semana e, conforme ela dizia, curtir a natureza de forma legal, apenas duas noites. E assim aconteceu. Seguiram os três para Osório. Lá chegando montaram as barracas, e andaram na beira da lagoa. Ao entardecer, enquanto tomavam chimarrão, puseram-se a admirar o belíssimo por do sol refletido na água cristalina e doce. Mariana, noiva de seu irmão, sentia medo de tudo. Luna a olhava e ria baixinho. Não havia falado a eles sobre as lendas, principalmente, sobre a da tal noiva. Aos poucos o sol se pôs, dando passagem às estrelas e à lua, que com seus raios prateados, proporcionava uma imagem maravilhosa. Jantar à frente de uma fogueira, lua cheia, movimento das águas da lagoa em cadência harmônica à musica que rodava no aparelho de som do carro. Tudo perfeito, mas Luna estava impaciente, sua cunhada percebendo seu nervosismo, falou, não paras quieta menina, o que te incomoda? Não tenho nada demais, disse Luna, estou bem tranquila e sem externar, pensou que algo poderia ocorrer aquela noite.
Tarde da noite recolheram-se nas barracas. Todos dormiam, até que em dado momento, ao escutar um estalido fora, Luna em um sobressalto levantou e foi ver o que seria. Presumia o que era, como tinha um propósito, sem pestanejar saiu e se deparou com uma cena que a deixou petrificada. Visualizou alguém de branco caminhando pela areia na orla da lagoa. Não sabia se gritava ou ficava calada para não espantar a visão. Até que conseguindo vencer o susto, foi ao encontro do vulto. Ao tentar tocar na roupa da possível assombração, caiu em risos, pois viu que quem ali estava era sua cunhada, enrolada em uma manta a caminhar. Quando elas se olharam, assustaram-se, mas logo deram boas gargalhadas. E ainda sob forte impacto, Mariana, olhando-a nos olhos perguntou, achas que não sabia das lendas desta lagoa? Sou medrosa, mas também leio muito. Sei que aqui, há muitos anos ocorreu um trágico acidente com uma noiva, que a noite ela por aqui perambula à procura do seu noivo-assassino.
O meu medo é que também sou noiva, e se os fatos quisessem se repetir? Luna sentira o quanto subestimou a capacidade de Mariana, pediu-lhe desculpas e aos poucos ambas foram narrando o que sabiam sobre outras lendas que envolviam a lagoa. O sol já estava alto no céu quando o irmão de Luna acordou e saiu em busca das duas, que sentadas na areia, envoltas em suas mantas, conversavam sobre as estórias maravilhosas que aquelas águas tão calmas, que mais parecem um espelho, tentam através de lendas explicar certos acontecimentos que a ciência não consegue comprovar.
Ao ficar só, frente à imensidão de água cristalina, Luna dirigiu o olhar ao infinito e como se quisesse que sua voz ressoasse a quem quer que fosse, falou:
- as lendas podem explicar os acontecimentos sobrenaturais, os mistérios, mas muitas pessoas não sabem é que estes fatos além de serem fantásticos ajudam a explicar algo ocorrido nas lagoas.