EM NOME DA PAZ E DO AMOR

Júlio cruzou rapidamente as escadas que separa a casa da rua, mas de repente parou e olhou para trás. Observou a garota que vinha a poucos metros que era alta e de um sorriso bonito.

Contava apenas com quinze anos e nunca prestara atenção naquela garota que conhecia a mais ou menos dez anos. No bairro morava desde que tinha dois anos e já se iam treze anos de longas histórias. Vira o ano 2000 chegar naquele lugar e também o bairro se desenvolver.

Pegou-se pensando e parado no mesmo lugar observando a garota, coisa que nunca antes havia acontecido. A realidade muito lhe perturbou, pois sempre estivera voltado para os estudos, obrigação que tinha para com os pais, e nunca prestara atenção naquela menina.

O encantamento pela garota levou seus pensamentos mui longe, talvez noutro momento de vida: o amor. Mas logo a garota seguiu seus passos e entrou rapidamente em sua casa. Júlio levou um susto porque a mãe o observava; disfarçou e adentrou em casa – a mãe só o observou e nada disse.

Júlio concentrou seus esforços nos estudos, pois tinha que defender a bolsa de estudo que ganhara no ano anterior por ser o melhor aluno da classe, fruto que lhe rendera a bolsa de estudo numa das melhores escolas particulares da cidade, mas a garota não lhe saía da mente.

Largou a apostila, ligou o computador e começou um desafio de Geografia: apenas 25% de acerto nas questões propostas – baixa concentração. Desligou o computador e foi à frente da casa na espera de observar novamente a garota. Sabia que ela chamava-se Joyce e que estava cursando a 8ª série da escola onde estudara o ano passado. Mas foi em vão, pois não aparecera.

Alguns minutos se passaram e Júlio voltou aos estudos, pois a mãe lhe chamara.

Sempre que tinha a oportunidade de vê-la, ficava a observá-la. Sempre no maior ânimo de um dia poder conversar, ou simplesmente trocar um olá. Mas este dia estava demorando. Coisas que o coração não entende.

Dias depois, quando chegava no bairro, que mais parecia um condomínio, teve a oportunidade de trocar firmemente um olhar. A garota correspondeu mas logo se retraiu. Para Júlio já era um bom começo.

Mais alguns dias e já se cumprimentavam quando se cruzavam na rua do bairro. Dias e mais dias, mas não tinha a oportunidade de conversar com a garota. Só teve a oportunidade de conversar quando saiu a sua foto no jornal como o melhor novato da escola.

Recebeu os parabéns de alguns vizinhos e ela estava no meio. Joyce parabenizou-o elogiando seu desempenho. Todos se foram e eles estavam sós. Um olhou para o outro e nada disseram, apenas se observavam.

E o tempo se encarregou do momento, de passar aqueles minutos de observação até decidirem a falar.

- Quanto tem...

- Você sem...

- Juntos.

- Você fala.

- Não, você primeiro.

- É que eu não sei o que ia falar.

- Mas você começou a falar.

- É, comecei.

- Então continua.

- Já esqueci.

- Você ia dizendo “quanto tem...” e parou.

- É mesmo. Ia dizer que faz muito tempo que quero falar com você.

- Eu também.

- O que será que acontece conosco quando desejamos falar com alguém e não conseguimos?

- Sei lá, é meio estranho.

- Mas acontece com a maioria da juventude.

- Bem, agora estamos aqui e estamos falando dos outros e não de nós.

Um breve silêncio. Júlio retomou a conversa:

- Alguns meses atrás notei que você já estava bem crescidinha. Você me surpreendeu!

- Por quê?

- Só notei isto a pouco tempo, mesmo nos conhecendo a muito tempo.

- Mas nos conhecia apenas de olhar e não de conversa.

- É. Uma bela ilusão.

- Ilusão?

- Sim, só conhecemos as pessoas quando convivemos com elas, e ainda é difícil.

- É mesmo.

- Gostaria que a nossa conversa não fosse somente hoje, mas sempre que pudermos.

- Eu também. Aliás, deveria ser assim com todos os homens. Mas...

- É, mesmo com a entrada do milênio, o homem ainda não conseguiu mudar.

- Que tal começarmos por nós?

- Excelente!

- Será que conseguimos fazer o povo do nosso bairro entender?

- Do nosso bairro?

- Sim. Podemos começar nas reuniões de Amigos de Bairros.

- Ótimo!

- Depois passamos para os outros bairros, para as outras cidades, estados, países...

- É uma verdadeira cadeia da paz.

- E é a paz que os homens precisam.

- Paz e amor.

- Tudo em nome da paz e do amor para este novo milênio.

- Então vamos começar a pregar a paz e o amor.

- Vamos!

Então, juntos começam a traçar planos para a pregação da paz e do amor que o homem tanto precisa. E a conversa iniciada naquele momento pode tornar-se amizade e a amizade em amor...

Caminho que deveria ser seguido pelos homens...

Prof Pece
Enviado por Prof Pece em 19/12/2006
Código do texto: T322210