Eu Era a Barata de Estimação de Kafka

Parece que Franz acordou um pouco indisposto hoje. Claro que hoje é domingo, dia nublado, ar carregado de preguiça. Mas ele está sim diferente, deve ter tido sonhos perturbadores durante a noite. Ele não consegue parar de pensar naquele processo absurdo no qual está envolvido, pensa que pode acabar indo parar numa colônia penal. Não entendo muito dessas coisas de processo, sou apenas uma barata de estimação, mas eu li uns trechos da carta que Franz escreveu ao pai e posso dizer que ele anda muito atormentado.

Sobre a questão das leis, Franz já se mostrou muito temente a elas, apesar de não entendê-las. Já fez até promessa para se livrar desse processo, inventou até de jejuar, como se passar fome fosse uma arte!

Posso suportar tudo isso com a astúcia e a aflição com que prometeu enfrentou o canto das sereias, mas não vou me submeter a esse capricho do Franz de querer viver em um castelo na América. Ah, isso não! Prefiro me tornar timoneiro de navio pirata ou ter meus pés devorados por um abutre. Além de que, esse advogado dele é um cavalo, senão o resultado de um cruzamento estranho ou um macaco que pensa que é gente. Desse jeito Franz vai acabar se jogando num rio, como se isso fosse um veredicto inevitável.