Chavinha

Uma ligação.

Putz, fui eu que liguei.

Não devia.

E agora?

O que vou dizer?

Digo “oi”, seguido do meu nome.

Do outro lado, um “ca-ra-ca” me desencoraja.

Putz, “fiz merda”, eu penso.

Fico sem graça, mas disfarço.

A ligação cai.

É o tempo de pensar: “retorno ou deixo pra lá”?

Ele liga de volta.

O papo flui melhor.

Mas nada além de 2 minutos de conversa.

“É saudade”, deixo escapar.

“Pensei em você nos últimos dois dias”, ele diz

“É mesmo”, é o que eu respondo.

Lá no fundo queria perguntar “pensou o quê”?. Isso daria margem para um longo papo, mas resisto.

Os dois minutos estão acabando

Um papo meio sem jeito, depois de meses sem nos falar

Apesar da cabeça lembrar, da minha parte.

Ele tenta insinuar que sente minha falta.

Prefiro não acreditar.

Isso pode não acabar...bem

Desligamos.

Seguro o telefone nas mãos e a cabeça começa a trabalhar.

Faço um filme do começo ao fim. Ah, o fim. Que merda!

Um sinal avisa que tenho nova mensagem.

Abro e o texto diz: “Gostei muito”.

Ai ai ai, não vou abrir a gaveta em que os sentimentos que vivi contigo estão guardados.

Não vou abrir, não devo abrir, não quero abrir...

Alguém ai viu a chave daquela gavetinha chamada coração?