QUEM AVISA, AMIGO É.

Não tanto assim como naquela famosa história, que até virou novela de televisão, nesta não "éramos seis", mas sim, quatro. Isso mesmo. Éramos quatro colegas que trabalhávamos no período noturno de uma renomada firma em, aqui em São Paulo. Durante a semana combinamos um passeio ao litoral. É isso mesmo. Pretendíamos espairecer um pouco, curtindo uma praia, em plano sábado, que era a nossa única folga semanal. Quando este chegou, lá fomos nós, quatro rapazes em busca de alguma aventura nas praias de Santos - São Paulo. O carro era um Volkswagen amarelo, bonitinho, bem conservado. Um detalhe muito importante: o seu proprietário havia mandado equipá-lo com um som da hora. Dava prazer curtir as músicas da nossa preferência. Antes de descermos a serra, fizemos questão de dois abastecimentos. Como dois? O fusquinha tinha dois tanques? Lógico que não. O duplo abastecimento consistia em encher o tanque do carro e o nosso estômago, principalmente com algumas cervejas e similares.

Há muitos anos, quando este passeio aconteceu, o motorista bebia, não pagava multa e muito menos perdia pontos na carteira de habilitação. Ou seja, a lei seca não estava ainda nem em gestação. Mas neste dia, mesmo que tal lei já existisse, o dono do carro e, obviamente o motorista em questão, não iria ter problema nenhuma, pois era um abstêmio convicto, ainda bem.

Chegamos bem alegres e animados na primeira praia que nos deparamos. Não queríamos saber nem o nome. Tendo mar, praia e mulheres era o que importava para nós. E foi aqui que aconteceu um imprevisto desagradável, o qual poderia até ter sido evitado, se o dono do carro tivesse acatado uma sugestão.

Tão logo descemos do carro, o dito cujo fez questão de deixar o som ligado, chamando a atenção de algumas pessoas. Pelo visto, conseguiu. Pois logo um indivíduo se aproximou, oferecendo-se para olhar o carro, sugerindo-nos que podíamos tomar banho tranquilamente, inclusive frequentar uma pequena bica com água doce que ficava não tão longe dali. Que ideia estapafúrdia! Algum interesse ele tinha para nos ver ausente daquele local. Ao ouvir isto, cheguei logo à conclusão que aquele camarada estava mal intencionado. E procurei então alertar os colegas e principalmente o dono do fusca, pedindo inclusive que desligasse o som. Pelo menos isto ele concordou, mas com ressalvas, ressaltando:

-Que nada! Você também parece que desconfia de todo o mundo. Você acha que eu vou pagar para aquele cara olhar o meu carro, enquanto estamos sempre por aqui?

- Mas o que eu quero dizer é justamente isto. Se resolvermos sair para a tal bica, que o façamos em dupla. Ou seja, fica sempre alguém aqui por perto.

E assim procuramos fazer. Procurávamos sempre nos revezar. E um detalhe curioso é que aquele indivíduo continuava por ali mesmo sempre atento a qualquer carro que estacionasse. E nós sempre de olho nele também. Só que, quando a bebida começou a fazer efeito, fomos relaxando quanto o revezamento da guarda do carro. E no momento em que nos afastamos por alguns minutos, quando fomos comprar um frango assado na padaria da esquina, aquele indivíduo aproveitou o ensejo e arrombou a porta do fusca e limpou o carro, levando primeiramente o som, por sinal, o dono ainda estava pagando e limpou todos os bolsos das nossas calças, incluindo outros objetos pessoais.

Quando regressamos com o frango e o rapaz foi pegar alguma coisa dentro do carro, levou um tremendo susto ao perceber a porta arrombada e exclamou:

-Pessoal, fomos roubados! - Ao mesmo tempo, olhou em minha direção e falou - Você tem uma boca, caro colega, que Deus me livre!

-Boca não, sugestão. Você nunca ouviu dizer que "quem avisa, amigo é?"

Como estávamos na praia, pelo ocorrido, infelizmente, poderíamos dizer que "entrara areia no nosso passeio", o qual terminou naquele momento. Perdemos até a vontade de dar um rolê na Ilha Porchat, ponto turístico daquela praia de onde estávamos nos despedindo.

Finalmente, ao regressarmos, quando estávamos na subida da serra furou um pneu do fusca. Mas este contratempo não seria nada tão trágico se não fosse cômico, pois o motorista teve o desplante de dizer que havia esquecido o macaco.

Realmente demorou, mas até que um filho de Deus nos socorreu com o tal objeto imprescindível num momento assim.

Quando voltamos ao trabalho o assunto geral foi, sem dúvida, o nosso passeio incompleto às praias de Santos. Quem sabe, da próxima vez, teremos mais sorte e precaução, diga-se de passagem.

JOBOSCAN

JOBOSCAN
Enviado por JOBOSCAN em 02/09/2011
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