HISTÓRIAS DO FIM DO MUNDO

... Ora senhor Noé tudo indica que essa chuva vai longe... Qual foi mesmo o combinado? Quarenta dias e quarenta noites... Insistia a velha tartaruga tentando chamar a atenção do também velho profeta encarregado de conduzir a Arca até o topo do Monte Ararat na cordilheira do Cáucaso.
... Senhor as águas se fecharam por sobre as tropas arrastando bigas, quadrigas, cavalos e soldados. Toda a infantaria submergiu inclusive seus comandantes. Até mesmo o Vizir que era fortemente escoltado desapareceu no turbilhão que se formou... Infelizmente, alteza, Moisés escapou... Amenóphis, o grande Faraó do Egito, ainda amargando a dor da morte do filho, urrou encolerizado por mais essa derrota.
... A peste negra espalhara-se por todas as aldeias do reino... Em Avignon, França, o próprio cirurgião de Sua Santidade o Papa Clemente VI, Guy de Chauliac, esforçava-se inutilmente para salvar a vida de milhares de nobres, generais, príncipes, princesas e da tão necessária e pouco produtiva plebe... Apesar de centenas de velas acesas e milhares de orações rezadas, o flagelo foi dilacerante e pouco se pode fazer...
... Marie Antoinette Josèphe Jeanne de Habsbourg-Lorraine levantou-se de sua poltrona indignada... Como não há pão para esses miseráveis? De-lhes brioches... Onde se viu perturbarem-me com assuntos tão irrelevantes... No palácio de Versalhes sua Majestade o Rei Luís XVI inrompeu pela sala atônito...Ora! Ora! Ora! Invadiram a Bastilha e libertaram aquela corja de subversivos. O mundo, parece-me, perdeu a cabeça. – O senhor Maximilien de Robespierre anunciou ao Comitê de Salvação Pública: “Luís XVI e sua infiel rainha Maria Antonieta estão mortos. A guilhotina fez sua parte pela história da França...”
... As trincheiras eram abertas dia e noite em um trabalho que lembrava lagartas devorando as folhas das videiras... Não havia tempo a perder as forças do Império Austro-Húngaro marchavam implacáveis sobre seus inimigos. A Europa afogava-se em sangue. A guerra era extremamente mortífera. As pesadas metralhadoras cuspiam fogo estendendo sobre os arames farpados milhares de corpos destroçados como trapos cobertos de neve... Os gases tóxicos banhavam os restos de seres quase humanos que ainda vivos iam sendo enterrados... E era só o início...
... No rastro do ódio da derrota anterior, a Alemanha de Adolf Hitler, agora varria o Velho Continente. Os campos de concentração recebiam milhares de judeus e os fornos queimavam dia e noite cobrindo a humanidade de cinzas e de vergonha... O outro lado rasgou Berlim e seu povo ao meio nada ficou devendo ao inimigo. Dentro do “bunker” o Fürer, derrotado, via sua prepotente loucura ruir... Não teve dúvidas, o gatilho da potente pistola Luger foi acionado... Enquanto o Terceiro Reich sucumbia brotava em Hiroshima a mais perversa flor criada pela bestialidade humana...
... Na Somália a fome devora milhares da cadáveres esqueléticos, já pelos lados do Complexo do Alemão, milhares de cadáveres saciam a fome com toneladas de pó branco. Enquanto em Santa Tereza as águas rolam morro abaixo, vírus de computadores alimentam-se de cerebros fumegantes que buscam, incansáveis, a perfeição...
... No Paraiso, o Todo Poderoso, vendo e revendo suas anotações, encontra a fórmula de Adão e questiona: Tolerância... Piedade... Inteligência... Perdão... Livre Arbitrio... Onde foi que Eu errei?

Claudio De Almeida
Enviado por Claudio De Almeida em 29/08/2011
Reeditado em 20/08/2012
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