Apego e dor
"Você deve aprender a caminhar sozinho", foi como disse aquele ancião ao coração que até então havia sido mal acostumado a apegar-se a tudo quanto lhe rodeava.
E, enquanto caminhavam dentre árvores e belíssimos trinados, olhava o velho aquele rosto abatido, e prosseguia-lhe dizendo: "Enquanto está livre destes desejos de posse, de força, de riqueza e de prazer, está livre também da amargura, que tão forte apunhá-la por vir da frustração dos teus instintos."
O homem velho então apontou para um casal de aves em acasalamento, e disse então ao infeliz peito: "A sua dor é aguda porque não entende; a admiração não fere quando não deseja também a posse e a cópula; não deixamos de amar um ser amigo porque este não deseja nos ter ou não deseja que o tenhamos, nenhum afeto morre assim, mas, morre sim o impulso instintivo, que, debatendo-se tenta levar consigo o ser em agonia.
Aquelas aves abatem-se se não se reproduzem, seus instintos lhe cobram isto, e podem elas superar tal estado?
A resposta é não, pois não podem entender nem fazer nada que as amplie a existência — estão amarradas às suas obrigações instintivas, e nenhum poder têm para além delas. E você, jovem, pode superá-los?"
E com esta questão deixou pensativo aquele ser tão amargurado e desiludido. Pensemos nós, leitores, sobre as idéias daquele ancião, e cheguemos às nossas conclusões...