Capitulo 03 A médium e o zelador de santo

Capitulo 03 A médium e o zelador de santo

Uma das versões mais aceitas popularmente, sobre a origem da Umbanda fala sobre o médium Zélio Fernandino de Moraes em meados do ano de 1908, acometido de doença misteriosa, foi levado por familiares a Federação Espírita de Niterói em determinado momento dos trabalhos da sessão Espírita manifestaram-se em Zélio espíritos que diziam ser de índio e escravo. O dirigente da Mesa pediu que se retirassem, por acreditar que não passavam de espíritos atrasados (sem doutrina). Mais tarde, naquela noite, os espíritos se nomearam como Caboclo das Sete Encruzilhadas e Pai Antônio.

Devido à hostilidade e a forma como foram tratados (como espíritos atrasados por se manifestarem como índio e um negro escravo). Essas entidades resolveram iniciar uma nova forma de culto, em que qualquer espírito pudesse trabalhar, as entidades começaram a atender na residência de Zélio todos àqueles que necessitavam. Fundou a Tenda espírita Nossa Senhora da Piedade. Essa nova forma de religião inicialmente foi chamada de Alabanda, mas acabou tomando o nome de Umbanda. Uma religião sem preconceitos que acolheria a todos que a procurassem: encarnados e desencarnados, em todas as bandas.

Suzete de Lins era uma pessoa extraordinária de extrema sensibilidade espiritual, ela freqüentava há anos um terreiro de Umbanda no interior da grande metrópole São Paulo.

Considerada pelo Pai de Santo que nunca ostentou esse titulo, uma das mais fortes médiuns da casa. – Sua mediunidade vem de berço. Dizia ele.

Suze como era carinhosamente chamada pelo Pai de Santo “Antonio de Oliveira” o auxiliava nos trabalhos da casa. Em uma das cessões que acontecia sempre rigorosamente aos sábados, Suze atendera um homem aparentando não mais de 30 anos de idade, totalmente debilitado física e psicologicamente.

Ela percebera pela sua clarividência aflorada que o homem sofria de um quadro extremo de “parasitismo”, em processo avançado de obsessão, notou que seu corpo era tomado pela cólera, e inúmeras larvas mentais estavam prezas ao seu perispírito, e um feixe muito sutil quase impercebível na cor roxa ligava o seu cordão de prata, diretamente do umbigo a algo ainda desconhecido.

Por Suze ser uma médium clarividente sua função no terreiro era, triagem dos que la procuravam ajuda para os diversos males do corpo e da alma, ao avaliar o caso mais grave da noite ela pede esclarecimento ao dirigente da casa:

- Esse irmão esta sofrendo um forte ataque de forças de extrema grandeza.

- Um dos casos mais graves que já tivemos em nossa casa, em todo esse tempo, que a freqüento. – gostaria que o senhor desse-me o entendimento se assim for permitido pelos nossos irmãos espirituais. – O que esta fazendo isso com ele?

- Primeiramente Suze, novamente eu lhe digo. – não sou “Pai do Santo”, e sim Zelador e acima de tudo chame-me pelo meu nome. Falou ele.

O Zelador de Santo como gostava de ser chamado o Pai Antônio de Oliveira era uma pessoa de temperamento forte, mais amável e acima de tudo humilde, seus quase 40 anos à frente do terreiro já havia visto muitas coisas ajudado inúmeras pessoas. Atuado em diversos casos de obsessões, ele sabia como o ser humano podia ser infinitamente bom ou ruim. E fazia sua parte para ajudar o próximo buscando sempre o bem.

Antônio de Oliveira pede para Suzete esperar que suas perguntas e dúvidas sejam sanadas pela entidade que abriria os trabalhos da noite.

Suzete então se contêm e pede para o obsediado sentar em um dos bancos que ficava à disposição da assistência que aguardava para ser atendida pelas entidades que ali desceriam.

Após algum tempo os trabalhos são iniciados, todos de véstis brancas simbolizando a pureza, a paz e acima de tudo a luz. Os ogans como eram chamados os filhos da casa responsáveis por tocar os atabaques (tambores feitos de madeira e pele animai), entoavam os pontos, cantigas que tinham um significado importantíssimo nas reuniões. Eles tocavam e cantavam. Os outros trabalhadores da casa cantavam juntos.

“Preto- velho quando tem luz

Ele arria em qualquer lugar

Primeiro cumprimenta Zambi

Sarava coroa

Sarava Conga”.

Simultaneamente os médiuns da casa vão recebendo as entidades, Suzete desenvolvera o dom da clarividência, mas não recebia entidades, e ficava como cambone e sustentação dos trabalhos.

A gira era de Preto-Velho, entidades tidas como as mais fortes e sabias dos terreiros, que às vezes enganava os leigos por sua aparência velha e frágil.

Na assistência o rapaz tremia como que influenciado pela força dos atabaques, Suzete atendia a entidade do dirigente da casa, mas sempre observando o rapaz, ela tinha o dom de ver os espíritos das sombras e os da luz.

O preto-velho do dirigente pede que Suzete conduza o rapaz até ele. Sentado em um toco de madeira a entidade toma seu café bem forte sem açúcar e da pitadas em seu cachimbo.

O rapaz se aproxima e senta em um banco já posicionado a frente da entidade, ela pega nas mãos do rapaz e diz:

- Meu fio voz micê ta muito ruim. – o vozinho ta bizoiando muita maldade em cima de oce.

Fazendo o sinal da cruz com os dedos banhados com óleo benzido na testa do mesmo, inúmeras vezes enquanto ia falando sem deixar que o rapaz pronuncia-se nada, como deve ser entidades serias que descem em médios preparados para caridade.

- Isso que suga sua energia fio é um espírito muito veio que há tempo não volta para carne, “Reencarna”. – Ele foi mandado, isso tenho preto-velho tem certeza, só num posso afirmar por que.

- Temo que faze um trabaio de limpeza no seu cazua, para tirar esse mau doce. – e descobri quem o mando fio.

À medida que a entidade ia conversando, com dialeto simples, de origem escrava, ia retirando os vermes do rapaz eles caiam um a um no chão e iam sumindo. Suzete via os vermes e o efeito do óleo na áurea dele, que ia mudando a tonalidade e o tamanho, equilibrando novamente seu espírito. Sabiam que aquilo seria uma ação de alivio, mas que os vermes voltariam causar dor nele se a limpeza espiritual não fosse realizada em sua casa e o verdadeiro vampiro de suas energias não fosse destruído.

Assim o preto velho termina a sessão com o rapaz Suzete o conduz novamente para o banco da assistência e pede que ele fique até o termino do trabalho para anotar o seu endereço e nome para o trabalho de limpeza que deveria ser realizado em seu lar. O preto velho e as demais entidades continuam o atendimento as outras pessoas que ali também estavam à procura de ajuda.

Ao termino do trabalho agora já sem as pessoas da assistência, o Zelador de Santo Antonio Oliveira e Suzete de Lins explicam os procedimentos que deveram ser tomados pelo jovem ao retornar para seu lar, coisas simples mais que serviam de proteção mesmo que provisória até a limpeza definitiva de sua casa.

- Você deve colocar um copo com água e sal grosso atrás de sua porta de entrada. – também começar ter o hábito de acender uma vela de sete dias e oferecer para seu anjo da guarda.

E continua o Zelador. – não se esqueça do mais importante. – hoje ao chegar a seu lar antes de qualquer coisa tome um banho de sal grosso para afastar possíveis vermes e a entidade que o obsedia.

Após as explicações e recomendações o Zelador deixa Suzete encarregada de anotar os dados do rapaz e sai.

- Qual é o seu endereço pergunta Suzete.

- Moro na Rua Tenente Pek. – numero 300. – Vila Imperador.

- Qual seu nome. Ela pergunta.

- Me nome Amadeus Siqueira.

Vagner Silva Penna
Enviado por Vagner Silva Penna em 19/08/2011
Código do texto: T3169274
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