Vox populi ou Ditados populares
Hoje acordei cedo, pois tinha muito o que fazer. O friozinho e a garoa lá fora convidavam à preguiça, mas lembrei do que minha avó sempre dizia: Deus ajuda quem cedo madruga! – e resolvi não dispensar essa preciosa ajuda.
Levantei-me, colocando primeiro o pé direito no chão, pois dizem que dá sorte. Tomei o café e saí para a rua.
No caminho para o metrô havia uma obra e tive de desviar para não passar embaixo da escada, pois dá azar! Logo adiante, um mendigo me pediu ajuda para comprar remédio. Não queria me atrasar, mas gostava de dar uma moedinha nesses casos, pois quem dá ao próximo empresta a Deus.
- Tome, só tenho essa moedinha. Ele respondeu:
- Não se preocupe, de grão em grão a galinha enche o papo. Agradecido, moça!
No metrô, não pude deixar de ouvir a conversa de duas mulheres ao meu lado. Falavam de alguém que fizera alguma maldade. Uma disse:
- É como se diz: quem semeia ventos, colhe tempestades. A outra concorda:
- É isso mesmo: não faças mal ao vizinho, que o seu vem a caminho. Aqui se faz, aqui se paga.
- Além do mais – devolve a outra – a justiça divina tarda, mas não falha. Quem espera, alcança. Por isso, quem tem telhado de vidro não deve jogar pedras no telhado alheio.
Atenta a essas filosofias populares quase perdi a hora de descer. Fui comprar passe de ônibus e, na inevitável fila, ouvi outro fragmento de conversa:
- Que lindo o seu pingente, onde comprou? – perguntava uma garota à outra, que tinha um pé de coelho pendurado no pescoço por um cordão de prata.
- Ah! comprei na 25 de março. Dizem que pé de coelho dá sorte, né? Eu queria mesmo era achar um trevo de quatro folhas, ou comprar uma ferradurinha de ouro que vi na joalheria, mas era muito caro.
-Também vou comprar um pé de coelho. Amei!
Após comprar os passes, fui para o trabalho. Ao chegar, notei que Ana, minha colega, estava chateada.
- Que aconteceu? – perguntei. Ela sempre me contava tudo.
- Minha mãe não fez a saia que eu queria para o encontro com o Nando hoje à noite – disse, chorosa. - Ela costura para todo mundo, só pra mim não sobra tempo.
- É assim mesmo – tentei consolar – você não sabe que santo de casa não faz milagres?
- É – respondeu ela – em casa de ferreiro, o espeto é de pau.
Começamos a trabalhar, pois o chefe pediu urgência naquele serviço. Ana resmungou:
- Pressa, quem tem pressa come cru e quente.
E eu arrematei:
- Devagar se vai ao longe, quem corre cansa, quem espera alcança.
Depois de um dia tão exaustivo, cheguei em casa com dor de cabeça. Tomei um banho quente e fui para a cama, pois quando se dorme a dor passa!