ENCONTROS

A voracidade com que o garoto comeu o chocolate lembrou-me uma ave de rapina devorando sua presa. Na sala onde estávamos reinou um desconforto geral, quebrado por um estampido vindo da cozinha e que funcionou como uma válvula de escape para a voracidade gulosa daquele fedelho. Uma mulher saiu apressada. Voltou aflita e comunicou a todos, mas com os olhos especialmente no marido (?), que a tomada do forno de microondas queimara.

Enquanto cada um dos restantes inventava uma solução, aproveitei para, discretamente, desferir um pontapé num maldito gato que se enroscara em minhas pernas. O fedelho guloso percebeu a agressão, mas tratei de suborná-lo com um chocolate barato que por acaso estava em meu bolso.

Em meio àquele burburinho sugeriram um disque pizza. Alguém pediu mais cervejas. O marido (?) voltou da cozinha e as trouxe.

O gato aparentemente esquecera-se do pontapé, pois me olhava fixamente. Apanhei alguns amendoins salgados e tentei dar a ele. Suas garras cravadas em minha mão foram a prova de sua boa memória. Fui ao banheiro e mijei na mão arranhada . Ardeu bastante. Estávamos empatados, eu e o rancoroso gato.

De volta à sala ofereceram-me cerveja. Dei um gole. Ofereci sorrateiramente meu copo ao garoto. Uma gorda que devorava amendoins salgados, no entanto, flagrou-nos; porém, antes que ela nos denunciasse, o garoto tratou de se livrar do copo criminoso.

Prudentemente sugeri que ele desse um pedaço de pizza ao gato vingativo. Na ânsia de buscá-lo o infeliz pisou forte no meu pé esquerdo. Tive ímpetos de correr atrás dele e dar-lhe um pontapé no traseiro, mas contive-me e suportei o riso de escárnio da gorda comedora de amendoins salgados.

O garoto retornou e fez sinal para que eu o seguisse. Fui. Ele apontou o dedo indicador da mão direita em direção ao terraço. Com que visão aquele fedelho me recompensou. Lá estava ela: uma loira esguia com um traseiro maravilhoso, oculto por uma saia curtíssima que deixava à mostra um fantástico par de pernas. Olhamo-nos, eu, o garoto e o gato, cúmplices.

QUE RABO! QUE PERNAS!

Caminhamos na direção dela. Contive minha baba; o garoto, não sei! Mas ele que se contentasse com o par de pernas, pois eu já contemplava seus seios estonteantes. Ofereci-lhe amendoins salgados, enquanto discretamente açoitava com a minha mão esquerda o pedaço de pizza que o fedelho ameaçava oferecer para ela.

Recusou meus amendoins salgados dizendo que sua alimentação era de outro tipo: saudável, equilibrada e todo aquele blábláblá diet. Agüentei a merda toda fingindo um profundo interesse, embora já a estivesse comendo mentalmente.

Olhei para baixo e vi que o maldito garoto e aquele gato rancoroso insistiam em permanecer ao meu lado. Em desespero pedi a ela uma sugestão de receita de alguma “iguaria” diet. “Que tal uma musse de banana com adoçante?”

Eu e o fedelho, com o gato em nosso encalço , disparamos rumo ao banheiro.

P.S.: este texto foi escrito em janeiro de 1.999. Mantive a grafia e talvez algumas situações pareçam datadas.

Cleo Ferreira
Enviado por Cleo Ferreira em 16/08/2011
Reeditado em 16/08/2011
Código do texto: T3163342