"Doce Sabor de AMÉLIA"
Uma linda alameda, uma casa antiga, intrigante e todos os dias exatamente as 11:55 ela saia para colocar o lixo para fora.
Olhávamos com ar curioso, pois era a única hora do dia que víamos a Dona Amélia na rua. Uma curiosidade inocente de infância nos tomava a cada dia.
Como ela podia viver assim, sozinha, sem ninguém. Pensávamos que ela devia ser muito triste em sua solidão.
Assim como ela, eu tambem pontualmente todos os dias espreitava pela janela do meu quarto os movimentos de dona Amélia. Sempre os mesmos movimentos, na mesma hora.
Como não era mais suficiente pra mim, espiar só da minha janela, resolvi espiar pela janela dela.
De mansinho, pois eu tinha medo, as crianças da vizinhança falavam que à noite ela comia gatos, que era uma bruxa.
Uma sensação de medo e de mistério e para meu espanto ela tambem me espiava.
Dois olhos me olhando e falando ao mesmo tempo. Os olhos dela falavam e com esse olhar recebi um convite para me adentrar.
Euforia total, iria saber como vivia misteriosamente essa senhora de hábitos incomuns.
Mas o que poderia me esperar?
O sol estava a pino e a casa tinha um cheiro doce, suave, que não consegui identificar.
E surge Dona Amélia com uma xícara e olhando bem dentro dos meus olhos, me entrega. Educadamente tomei o chá e depressa voltei as costas, agradecida e sai.
E no outro dia, no mesmo horário, estava eu lá.
E assim passaram se dias e meses, o mesmo ritual, o mesmo cheiro doce, porem acrescido de bolos, bolachas e biscoitos dos mais diversos sabores. Mas nenhuma palavra esboçada, nada!!!
E eu pensava comigo se ela teria perdido a habilidade de falar, ou se nunca tinha feito.
Até que um dia o ritual foi quebrado, me olhando sem parar ela falou:
- Voce sabe bordar???
Eu que ficara muda então, só acenei com a cabeça um não pesarosa.
- Amanha venha mais cedo. Vou te ensinar a bordar e tambem os mistérios da vida.
Sai deslumbrada, ela falava e ainda ia me ensinar!!!
A pronta e a hora, cheguei no maior entusiasmo e de agulhada em agulhada ela me ensinava os pontos e os segredos da vida.
Bordei, ah! Como bordei. Era um prazer, viajar entre pontos e contos.
Tudo era mágico, imperceptível aos sentimentos humanos, o bordar, o cheiro doce, o olhar, as historias.
Percebia-se que eu uma menina de nove anos era a única amiga de Dona Amélia, mas nunca me atrevi a perguntar porque ela era tão sozinha, se não tinha parentes, amigos. Era só ela, eu, suas historias, seus cheiros e sabores.
Uma aluna assídua, nunca faltei às aulas, ao contrario, fazia com o maior préstimo e zelo e nem me atrasava, pois pontualidade era um quesito básico dos princípios de dona Amélia.
Por um imprevisto, um dia, atrasei-me da escola e perdi minha aula de encantos.
Correndo apavorada pra casa só vi a ambulância na porta de dona Amélia.
Nesse dia e nos outros seguintes, o lixo não foi mais posto na rua.
E anos se passaram, ainda me recordo do doce sabor dos chás, do bolos, das lições, do olhar mágico de Dona Amélia. Esse sabor ainda incita em minha alma, uma mistura de doce e de saudade, de mistério e de encanto. Uma presença marcante, uma lição inesquecível.
Doces lembranças de Dona Amélia.
Uma linda alameda, uma casa antiga, intrigante e todos os dias exatamente as 11:55 ela saia para colocar o lixo para fora.
Olhávamos com ar curioso, pois era a única hora do dia que víamos a Dona Amélia na rua. Uma curiosidade inocente de infância nos tomava a cada dia.
Como ela podia viver assim, sozinha, sem ninguém. Pensávamos que ela devia ser muito triste em sua solidão.
Assim como ela, eu tambem pontualmente todos os dias espreitava pela janela do meu quarto os movimentos de dona Amélia. Sempre os mesmos movimentos, na mesma hora.
Como não era mais suficiente pra mim, espiar só da minha janela, resolvi espiar pela janela dela.
De mansinho, pois eu tinha medo, as crianças da vizinhança falavam que à noite ela comia gatos, que era uma bruxa.
Uma sensação de medo e de mistério e para meu espanto ela tambem me espiava.
Dois olhos me olhando e falando ao mesmo tempo. Os olhos dela falavam e com esse olhar recebi um convite para me adentrar.
Euforia total, iria saber como vivia misteriosamente essa senhora de hábitos incomuns.
Mas o que poderia me esperar?
O sol estava a pino e a casa tinha um cheiro doce, suave, que não consegui identificar.
E surge Dona Amélia com uma xícara e olhando bem dentro dos meus olhos, me entrega. Educadamente tomei o chá e depressa voltei as costas, agradecida e sai.
E no outro dia, no mesmo horário, estava eu lá.
E assim passaram se dias e meses, o mesmo ritual, o mesmo cheiro doce, porem acrescido de bolos, bolachas e biscoitos dos mais diversos sabores. Mas nenhuma palavra esboçada, nada!!!
E eu pensava comigo se ela teria perdido a habilidade de falar, ou se nunca tinha feito.
Até que um dia o ritual foi quebrado, me olhando sem parar ela falou:
- Voce sabe bordar???
Eu que ficara muda então, só acenei com a cabeça um não pesarosa.
- Amanha venha mais cedo. Vou te ensinar a bordar e tambem os mistérios da vida.
Sai deslumbrada, ela falava e ainda ia me ensinar!!!
A pronta e a hora, cheguei no maior entusiasmo e de agulhada em agulhada ela me ensinava os pontos e os segredos da vida.
Bordei, ah! Como bordei. Era um prazer, viajar entre pontos e contos.
Tudo era mágico, imperceptível aos sentimentos humanos, o bordar, o cheiro doce, o olhar, as historias.
Percebia-se que eu uma menina de nove anos era a única amiga de Dona Amélia, mas nunca me atrevi a perguntar porque ela era tão sozinha, se não tinha parentes, amigos. Era só ela, eu, suas historias, seus cheiros e sabores.
Uma aluna assídua, nunca faltei às aulas, ao contrario, fazia com o maior préstimo e zelo e nem me atrasava, pois pontualidade era um quesito básico dos princípios de dona Amélia.
Por um imprevisto, um dia, atrasei-me da escola e perdi minha aula de encantos.
Correndo apavorada pra casa só vi a ambulância na porta de dona Amélia.
Nesse dia e nos outros seguintes, o lixo não foi mais posto na rua.
E anos se passaram, ainda me recordo do doce sabor dos chás, do bolos, das lições, do olhar mágico de Dona Amélia. Esse sabor ainda incita em minha alma, uma mistura de doce e de saudade, de mistério e de encanto. Uma presença marcante, uma lição inesquecível.
Doces lembranças de Dona Amélia.