MATHEUS E A ENCHENTE DO RIO RIBEIRA
Assistindo ao Rio Ribeira crescer, incomum para o mês de agosto, Matheus viu os pais aflitos, tentando levantar os móveis acima do alcance das águas, principalmente o televisor de monitor fino e 32 polegadas, que haviam acabado de comprar. Mas não conseguiram. Antes de ser resgatado pelos homens do corpo de bombeiros viu os móveis e os colchões das casas dos amigos boiando, bois e cavalos rodando na turbulência que as águas rápidas produziam, árvores inteiras e muitos pés de bananeiras sendo levados rio abaixo. Contudo, nada foi tão intenso e aterrador do que não poder ajudar aquele homem que passou se apoiando em um galho e gritando por socorro, arrastado para morte certa.
Depois de a enchente passar, ouviu dizer que receberiam ajuda da defesa civil e da prefeitura para reconstruir a vida. Porém, o que aconteceu foi que o pai perdeu o emprego de cortador de cachos de banana (o patrão também perdeu tudo na enchente e teve de demití-lo) e a ajuda prometida não aconteceu. A família teve de mudar para outra casa em outro sítio. Passado o período de limpeza, desinfecção e organização do pouco que restou, numa tarde quente, mas ainda nublada, Matheus, de mente limpa na sua infância, sem ressentimentos, mergulhou na companhia do Renan, seu amigo, no Ribeira: “aquele que é o melhor rio do mundo.”