Encontros de irmãos

- Vamos jantar?

- Estava aqui pensando.

- Em quê?

- Nas coisas, nas coisas, na nossa vida

- Por exemplo?

- Hoje não sinto a vida como era. Sei lá, você não acha,?

- Sim, parece parada! È sim...

- Lembra da casa grande?

- Doze quartos. Um exagero!

- Era sim, mas a gente dava conta. Limpando, à cera vermelha, os tacos velhos. Mamãe apressando.

- Estava louca de saudades do papai. Nem tinha mais nada.

- Não mesmo. Mas acalentava respeito. Gostava dele lá, fazendo de brava. Amava suas visitas depois da separação.

- Logo vendemos a casa.

- Nunca aceitei isso. Aquela casa era pra ser da gente ter até hoje.

- Tinha as dívidas. Não podiam fazer muita coisa.

- O quintal era muito grande!

- Mangueiras enormes, as hortas, o telhado firme de pedra.

- Um laje vinda de longe.Um amigo do papai trouxe de presente.

- Por que endividava tanto assim. Acabou por causa da miséria.

- É, mas teve a vergonha também. Nossa família ficou muito envergonhada.

- Um grande jogador!

- Um imbecil! Isso, sim.

- Não fale assim dele.

- Você continua defendendo.

- Lembra quando vinham as primas de Conquista?

- Oh, se lembro! Cada coisinha!

- Ficaram estranhas com a gente.

- Acho que foi depois que o dinheiro acabou.

- Você acha isso? Não sei. Nós também nos afastamos deles. A gente se escondeu.

- Pode ser. Mas nunca ligaram pra saber como a gente estava.

- Eu sei.

- Ah! Estava pensando em qualquer dia passar na rua e ver a casa como está. Se está pintada, conservada

O que você acha?

- Você ficou muito tempo fora. A casa foi demolida. Estava muito velha. Papai nunca cuidou direito

- Mesmo! Que pena. Queria mesmo olhar pra ela. talvez, entrar e ver os cômodos, a cozinha. Doze quartos. Como era grande e ainda tinha o quintal, as mangueiras. Lembrar como eu passava horas imaginando o mundo lá de cima!

- Também penso nessas coisas. Sabe o que faço? Busco na imaginação.Consigo ver cada pedacinho

dela, tudo, as paredes rachadas, a tinta amarela em várias camadas. A terra preta no quintal. Lembra do ferreiro que trabalhava nos fundos?

- Seu carlos!

- Papai alugou pra ele aquele comodo!

- Parecia da família.

- Ai ai ai. Não sabia que lembrava assim.

- Nunca esqueci de nada

- Mas me conta. Ficou alguma fez com a prima carla?

- Sabe que não fiquei.

- Sei nada. Só sei que estavam sempre juntinhos. Dava raiva. Ela não ligava muito pra mim

- Você era muito mandão, queria controlar as brincadeiras, deixava ela irritada

- Já era mulher, pernas compridas.

- Ufa! roupas coloridas. Amava ficar na calçada de conversinha com os vizinhos.

- Lá na frente.

- Sim, perto do jardim.

- Uma vez vi ela nua saindo do banheiro. Foi rápido. Ela me viu e saiu correndo. No hora do jantar

um contrangimento só. Não abriu a boca. Os pezinhos dela esfregava um no outro por baixo da mesa.

- Entao ela gostou!

- Deve ter ficado assustada e excita ao mesmo tempo. Estava escuro e nem vi direito. Quando fomos pra rua, ficou a noite toda sentada, quieta, e de vez em quando me olhava. Não consegui falar nada naquele dia. Mas s´de vê assim, indefesa, já era bom!

- E depois?

- Depois, nada. Veio as crises na família e ela nunca mais voltou.

- Sempre achei que teve mais coisas..

Riram e foram jantar...

Ariano Monteiro
Enviado por Ariano Monteiro em 29/07/2011
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