A PORTA MAIS LARGA DO MUNDO
Seu Estevão um dia, parou frente de um pequeno bar, tirou do bolso uma fita métrica, mediu a porta e falou em voz alta:
- “Dois metros de altura, por oitenta centímetros de largura”.
Admirado mediu-a de novo.
Como se duvidasse das medidas que obteve, mediu-a pela terceira vez. E assim, tornou a medi-la diversas vezes. Curiosas, as pessoas que por ali passavam, começaram a parar. Primeiro, um pequeno grupo, depois, um grupo maior, por fim, uma multidão.
Voltando-se para os curiosos, Seu Estevão exclamou:
- “Parece mentira! Esta porta mede apenas dois metros de altura e oitenta centímetros de largura, no entanto, por ela passou todo o meu dinheiro, meu carro, o pão dos meus filhos; passaram os meus móveis e a minha casa.
E não foram só os bens materiais. Por ela também passou a minha saúde, passaram as esperanças de minha esposa, passou toda a felicidade do meu lar.
Além disso, passaram também a minha dignidade, minha honra, meus sonhos e meus planos.
Sim, senhores, todos os meus planos de construir uma família feliz, passaram por esta porta, dia após dia, gole por gole.
Hoje, eu não tenho mais nada. Nem família, nem saúde, nem esperança.
Mas, quando passo pela frente desta porta, ainda ouço o chamado daquela que é a responsável pela minha desgraça. Ela ainda me chama insistentemente:
- Só mais um trago! Só hoje! Uma dose, apenas!
Sim, essa era a senha. Essa era a isca. E mais uma vez eu caía na armadilha, dizendo comigo mesmo: ‘quando eu quiser, eu paro’.
Isso é o que muita gente pensa, mas só pensa. Hoje, eu sou um trapo humano. E a bebida, bem, a bebida continua fazendo as suas vítimas.
Por isso é que eu lhes digo, senhores: esta porta é a porta mais larga do mundo! Ela tem enganado muita gente. E por esta porta, que pode ser chamada de porta do vício, de aparência tão estreita, pode passar tudo o que se tem de mais valioso na vida”.
Visivelmente amargurado, Seu Estevão se afastou, a passos lentos, deixando a cada uma das pessoas que o ouviram, motivos para profundas reflexões.