Foto.
Ela ficou ali, congelada, paralisada, criando suas próprias expectativas.Ficou, por alguns minutos, com os olhos fixos naquele mural. Lá estava a foto. Olhar para ela era uma forma de resgatar todas aquelas lembranças. Estava tudo ali: o brilho no olhar, a felicidade estampada na cara, o sorriso mole que ela sempre dava quando ele tocava seu corpo... Tudo congelado naquela imagem. Todas as lembranças corriam na sua cabeça como um filme acelerado. Não deveria ser assim. Ela queria assistir em câmera lenta; voltar para cada um daqueles dias em que a hora não passava e que nada além dele tinha importância. Lentamente, ela caminhou até onde estava a fotografia, a história, a memória, o que sobrou dela.
Acariciou a foto. Observou cada detalhe do seu rosto da mesma forma que fazia quando estava nos seus braços, e se permitiu recordar cada dia, cada segundo. Durante um bom tempo, ele foi apenas mais uma companhia: um bom papo em dias tristes, uma distração extra no meio da semana. E assim, no mais profundo descaso, ele se tornou o caso, a paixão quente, a vontade, a calmaria e o desespero, um refúgio... Tudo! Ela o tornou tudo. Ao seu lado, ela podia ser a mesma que via todos os dias no espelho. Ela era confusa, intrigante, estonteante, errada, clara, simples, mulher. Ela era amada. Era o que ele queria e o que ela desejava. Pobre menina. Aprendeu o contrário da realidade. Não lhe contaram que iria doer tanto; que o príncipe vem, mas não necessariamente te leva com ele. Nunca lhe disseram que o sonho é algo singular, criado e vivido apenas por nós mesmos. Algo no seu mais profundo eu desejava não mais se torturar. Querendo ou não, era preciso admitir que nada seria como antes. Todo aquele encanto já havia se perdido. Os dias foram passando e o sentimento foi se deixando intimidar pela constante ausência. Naquele instante, ela entendeu. Mais do que isso: ela aceitou. Admitiu para si que havia acabado. A história deles havia ficado pelo caminho; mas a dela estava ali, desejando voltar a ser escrita, querendo sujar as muitas folhas em branco que havia.
O primeiro rasgo foi como cortar dentro de si. Foi ser realista, coisa que ela detestava. O segundo doeu menos. E assim, seguidamente, cada parte daquela foto foi se soltando, acabando, indo pra qualquer lugar que não fosse ali. Quando só restavam pedaços picados em sua mão, ela se sentiu leve. Sabia que as lembranças não se resumiam em uma fotografia. Elas ainda estariam ali, mas, agora, havia um espaço no seu mural a ser preenchido. Havia uma chance de recomeçar, de ser, de buscar o desconhecido, de amar mais uma vez. Nina estava enfrente ao espelho com a alma nua. Prendeu os cabelos em um rabo de cavalo para olhar cada detalhe de si que ela havia esquecido. Passou um batom vermelho e resolveu se sentir mulher novamente. Mas dessa vez era por ela e não por ele. Saiu e deixou ali, sobre a cama, a chave que abriu a sua cela