A Visita

Ela me apareceu de repente. Durante uma tarde chuvosa de uma segunda-feira escura e um tanto típica. Não sei ao certo se foi segunda, talvez tenha sido terça. Não, provavelmente não. Certamente foi uma segunda, sendo aquele um sentimento característico de inicio, mas que não marca nada menos que um fim. Fim de quê, eu não sei bem.

Lembro-me que tive vontade de chorar. Há muito estava mantendo a armadura com bastante brilho, sem nenhum sinal de desordem ou imperfeição. Montei-a sem perceber e, da mesma forma, me aprisionei dentro dela.

Quando chegou sem avisar, aquela lágrima me feriu mais do que o habitual, e mais do que pretendia, certamente. Não foi rápida, mas teve de ir embora para que um dia pudesse retornar. E ela voltaria, mesmo contra a minha vontade.

Em sua primeira visita, senti certa familiaridade em seu comportamento. Parecia que estava retornando, como se sempre tivesse que estar por perto, mas havia viajado por longos anos e agora, finalmente, estava de volta. Sendo parte de mim então, por que é que eu nunca havia me dado conta da sua ausência?

Talvez fosse um pouco masoquista pensar que a sua visita me trouxe conforto. Na época em que chegou, tal hipótese jamais passaria pela minha cabeça. Mas o tempo passou, e a visita tornou-se tão frequente que a convidada se transformou numa hóspede e em seguida comprou o próprio quarto para que não precisasse se retirar com tanta frequência.

Ela viajava, porém, e passava dias, semanas ou até meses fora. Pensava nela a maior parte do tempo, mas não me atrevo dizer que em algum momento senti realmente a sua falta. Acontece que ao mesmo tempo em que a sua presença me matava, a ausência me impedia de sentir qualquer sentimento, senão somente o vazio da solidão. Doeria de qualquer forma, era apenas melhor quando eu não estava sozinho.

Passei então a desejar seu retorno e a depender da sua presença para viver, definitivamente. Pensei que nunca me daria conta da rapidez com que saí de um ciclo para outro. O medo de estar só me fez criar um mundo paralelo onde a minha única companhia era o meu próprio sofrimento.

Estava agora presa ao meu próprio medo de se esconder da dor. Nunca fui corajoso o bastante para enfrentar esse monstro por medo de nunca conseguir vencê-lo. Foi então que o meu próprio temor me conduziu para uma prisão perpétua de sofrimento. A solidão chegou como eu temia, e agora era bem-vinda demais para que a deixasse partir. Estávamos condenados um ao outro.

Louise Hammer
Enviado por Louise Hammer em 21/07/2011
Código do texto: T3110423
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