O Rio de barco

O rio secou, raso.

Ainda um fio tímido

Corre por veias de ferrugens

O caldo generoso, que trazia de outros cantos

Todo entulho que encontrava,

Não aguenta mais

Traz apenas ele mesmo

E algum peixinho

Corajoso que não tem medo de ar

De quando em quando me lembro de minha infância. E o lugar que mais me marcou Foi o rio. Tínhamos dois, que na verdade eram o mesmo. Como não tinha noção de continuidade, não sabia que o rio da Mula assada era só uma continuação do rio da Canoa. Entre esses dois lugares existia um mundo negro, inabitado, profundo, lento, rodeado de ambos os lados por taboas e cercas que separavam as fazendas. No rio da Canoa, era o lugar preferido de passar os finais de semana. Nos bronzear, olho de soja e sal, mistura infernal, chegávamos em casa mesmo cor de bronze.

O rio, que foi um lugar místico de minha infãncia, lugar de passagem, que de alguma forma, simbólica pelo menos tínhamos uma noção de profundo, não pela violência. Sabia do seu perigo quando ficava manso, grande, quase pastoso. As águas, Nesses pontos, era invadidas por redemoinhos concêntricos, como se fosse micro revoltas, imaginava parte do rio querendo voltar, reagindo a força Descomunal que sua massa principal tinha, Uma massa de água sem conflitos. Um coisa que fazia, era levar barcos de papel, Feito com folha de caderno, colocava pra descer, e durante o percurso das águas, Densa ia como ela, tinha fé, quando encontrava esse movimentos contrários, Era sugado, numa comunhão de voltas e retornos, se molhava, virava uma pasta branca que depois não tinha destino.

Via sua impotência diante de tantas forças, mesmo antagônicas, outras sem sentido, o que ele tinha era apenas uma imensa passividade, uma espécie de orgulho, de resistir. Até se submetia, mas não porque cedeu, mas porque foi vencido. Antes disso era travada um batalha épica, quase eterna, onde sua única arma, era sua constituição, que era desfalecida, pela impostura de tanta força.

Em águas paradas, outros tempos, sem mistérios, O barco tem apenas o vento e quase nada mais. Por isso gosto de voltar e colocar novos barcos no rio da canoa...

Ariano Monteiro
Enviado por Ariano Monteiro em 19/07/2011
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