Confissões em um pequeno caderno de notas direcionado ao sem fé no mais poderoso ser que possa existir para você: você

Setenta e sete anos. Descontentamento. Eu me encontro na fase senilidade, o último estágio do envelhecimento em que minha memória já está falha e meu estado físico envelhecera junto aos anos que se passaram – um todo em que tudo funciona com base mais ou menos, e as dores estão mais para mais do que para menos. Sentei-me em frente a esta velha máquina de escrever fazem mais de duas horas – estava olhando para a folha em branco e acredite ou não, ela olhava de volta para mim, mas finalmente, ainda que de um jeito melancólico e doído, encontrei uma maneira de começar.

Insano, ilimitado, louco: um jovem cuja vida fora menos que risos por risos, e mais por sarcasmo. A morte nunca me causou medo ou sombra, a vida causara isso por ambas, pois triste não é morrer, e sim passar a vida esperando para que a morte chegue e como um piscar de olhos, um sopro ou uma pedra atirada, pegue você e arraste para o fundo do fundo e se não tiveres vivido tudo o que lhe foi proporcionado a viver, meu caro, o arrependimento poderá doer como uma pequena faca cortando cada centímetro do seu corpo vivo quando estiveres entre os muros do inferno. A vida tem se tornado uma fila de esperas, por um atendimento médico, por um emprego, por um antigo amor, por uma oportunidade, por um cão na carteira, por uma vaga no estacionamento, por um horário no dentista; todos esperam por algo o tempo todo, enquanto sentada a espera de um ônibus carregado por bêbados, sóbrios, religiosos e ateus está a vida. As palavras para mim nunca foram um dom ou uma preciosidade, sempre foram uma necessidade e com meu pouco talento para lidar com elas, aprendi a riscar papeis – em geral pela madrugada, após fumar vinte e sete cigarros, acompanhado por uma garrafa de uísque, apenas riscava e depois amassava ou guardava. Em geral minhas histórias eram autobiográficas sobre noite em bordeis, em puteiros, em bares, botecos, ruas e becos. As preferidas eram sobre as putas e seus sentimentos exonerados de si mesmas, em maior parte o motivo era pais violentos, estupros, falta de dinheiro, mães alcoólatras e algumas porque realmente gostavam do caralho, essas foram personagens principais de romances de verão narrados por mim. As aventuras eram loucas, mas houve uma mudança deliberada após conhecer uma... Uma que com uma cicatriz marcando teu rosto perfeitamente bonito, suicidou-se após uma noite num programa.

“Querido Alexander, perdoe-me pela falta de fé que tenho apesar das noites em que passamos acordados bebendo uísque e mais uísque enquanto você me ensinava que a fé não chegaria pelo correio. Busquei por ela em todos os cantos, e a cada vez que me deparava com um espaço vazio tomando conta de todo o meu mundo, tornava-me menos viva, menos feliz, menos eu, menos você. Essa cicatriz marcou minha história como um tsunami, um terremoto, uma crise financeira na Bolsa de Nova York. Não estarei sentindo dor a partir do momento em que... Bom... Deus não me aceitará, mas que seja com o diabo. Eu quero paz. Eu quero inferno. Eu quero qualquer coisa que seja diferente deste mundo. Talvez me ajoelhe e peça a Deus que me perdoe por todos os pequenos e grandes erros, porque o que eu quero é um lugar diferente para viver, e o inferno não estaria muito distante da minha atual realidade. Três abortos, doses, cigarros, drogas e grandes caralhos, como diria você rindo enquanto servia-se de mais um copo. Recebemos conselhos do diabo, vivemos uma loucura aparentemente sem fim e hoje decidi dar este mesmo a ela. Perdoe-me por toda essa confusão descrita, e pela maneira a qual irei despedir-me. Fui a casa onde vivi quando criança, algumas aranhas ainda a habitavam e no fundo, no quintal dos fundos, havia duas pequenas placas com flores secas e uma mensagem: “Deus nos levou para vivermos ao lado dele.” Não sei se existe mesmo a Redenção, mas de todos os erros que cometi eu quero me redimir. Agradeço pelas noites, pela comida, e por desacreditar do mundo, mas acreditar em mim. Velho... Espero você lá embaixo”.

Nunca fora boa com as palavras, pouco sabia ler ou escrever, mas era a mulher mais linda que eu já havia visto em todos os longos e doloridos dias. Abusada pelo pai, rejeitada pela mãe e pelo avô, partiu às ruas. Rejeição.

Agora... Ao sem fé no mais poderoso ser que possa existir para você.

Não acredito em boas intenções, em pessoas, ideias, deus ou ideais, todos estes terceiros foram inventados pelo próprio homem para tirar a fé de onde deveria haver. Fui rejeitado, todos já foram algum dia e se não foram, serão, pois sempre haverá aqueles que não terão fé em si e tentarão fazer com que eu, você, não acreditemos no melhor para nós mesmos. Para mim: eu. Para você: você.

Lorena Colnago
Enviado por Lorena Colnago em 16/07/2011
Código do texto: T3099238
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