A Ecologista

Em contraste a todas as agressões causadas pelo Homem à natureza, uma jovem moça se amarrava ao pé de pau-brasil que seria cortado junto com outras árvores centenárias para a construção de uma nova praça. Os moradores da cidade estavam divididos. Uns achavam que deveriam ser cortadas para construir a nova praça. Outros achavam que deveriam apenas conservar a praça atual com suas arvores centenárias. Discordâncias à parte, eles concordavam em um ponto: não fazer nada a respeito. Cruzaram os braços e deixaram que a pequena massa politica da cidade decidisse por eles.

Mas, em meio a todo este comodismo, uma jovem moça resolveu protestar. Amarrou-se ao pé de pau-brasil e disse:

- Vai ter que me cortar primeiro!

- Não seja por isso- respondeu um dos trabalhadores enquanto ligava a motosserra.

- O que você está fazendo? – gritou o engenheiro chefe.

- Eu só iria assustá-la- nisso, desligou a maquina e baixou a cabeça.

Subalternos, é esse tipo que me faz sentir vergonha de ser humano. Pessoas que sem motivo procuram atingir o próximo. Movidos por pura ignorância ou preconceito, eles usam o poder que lhe conferem contra inocentes. Como policiais que não podem ver um jovem negro, logo aproveitam a situação para demonstrar sua autoridade. Mas se em uma operação o suspeito for um camaradinha bem sociável, euro-fisicamente (que tenha uma aparência mais europeia), e ainda mais se for com alguém de certo status social. Neste caso, a mesma força autoritária age com se fosse um vira-lata que, ao avistar outro cão maior, volta-se para trás com o rabo entre as patas. Desligou a máquina e baixou a cabeça.

- Você não quer que sua cidade fique mais bonita? – perguntou o engenheiro para a moça.

- Quero, e é exatamente por isso que eu não vou deixar que vocês cortem as árvores.

- Mas a praça que vamos construir terá vários arbustos e mais bancos para sentarmos. Aos domingos muitos ficam em pé depois da missa porque não tem bancos o suficiente. Além do mais, muitas pessoas poderão trabalhar na construção dela. Sem contar que, agora, tem muitos pássaros, é difícil ficar aqui e não ser acertado com uma rajada de um deles. Eu mesmo já tive o meu Kiton atingido, um terno desses vale mais que todos estes pássaros juntos. E têm mais problemas: os cachorros! Não sente o cheiro de urina que tem esta praça? Até tentamos matar os cachorros, mas alguns loucos não permitiram, preferiram sentar-se na urina destes animais. E estas árvores? Estas árvores escurecem muito a área, os comerciantes reclamam por ter que gastar muito dinheiro com energia para manter as luzes de seus estabelecimentos acesas o tempo todo...

O homem continuou com seus argumentos, falou,falou e continuou falando. Expôs tantos motivos que acabou convencendo os que eram contra a construção. Agora a cidade inteira exigia que tirassem a mulher de lá, e assim se fez. A policia chegou e ela foi presa. As árvores caíram e pela primeira vez o sol iluminou toda a área, fato que foi até aplaudido pelos cidadãos.

Em alguns meses, a praça nova foi construída e, veja só o que aconteceu: os que reclamavam das rajadas dos pássaros agora reclamavam da falta de seu canto; os que reclamavam da falta de bancos para sentar agora reclamavam de que era insuportável sentar nos bancos com o calor que fazia; e, por fim, mas não menos importante, os comerciantes que reclamavam que a energia estava cara agora estavam gastando mais energia com ventilador e ar-condicionado. A menina continuava presa por impedir o progresso da cidade. E o prefeito? este passava férias no litoral enquanto sua cabeça estava cravada em bronze no centro daquela nova praça.

Orestes Benedictis
Enviado por Orestes Benedictis em 16/07/2011
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