Os olhos.

Os olhos, de um castanho quase mel, não paravam de fitar o chão. O cabelo de um castanho indefinido, raro, caia sobre seu rosto. E assim ela vagava. Sem levantar os olhos. Sem olhar dos lados. Guardada em sua própria dor, em seu próprio mundo, em sua própria solidão. E ninguém notava, ninguém a percebia. E assim ela seguia, vagando por meio de tantos corpos, de tantos sorrisos, de tantas alegrias. Era indiferente a tudo. A vida já não era tão bela quanto pensou que fosse. Não, não houve nada de ruim em sua vida. Afinal, uma vida de princesa, de uma típica garota mimada não pode ser ruim para ninguém. Ela é que mudou. Talvez tenha sido aquela droga de ‘’relacionamento’’, se é que podemos chamar assim. Durou oito meses. Nada físico, a não ser no primeiro dia. Aquele primeiro beijo era o ultimo. E a cada vez que as línguas desbravavam mais as bocas, mais perto do fim eles chegavam. Mais amargava e doentia ficava a situação. Oito meses depois, o fim chegou. Ela tomou a decisão. Não sabia ainda ao certo o que sentia, por quem sentia. Só sabia que ele não era mais certo. Melhor dizendo, sabia que ele nunca fora o certo. O jeito que ela o via era apenas uma nova saída para curar sua necessidade de atenção emocional, não como uma outra pessoa que poderia modificar sua vida tão perfeita, cheia de problemas fúteis, dispensáveis e banais. Mas ainda assim, dentro dessa vida de princesa moderna, ela aprendeu a sobreviver ao mundo. Ela aprendeu a viver. E aos poucos, ela se tornou a garota que se esconde atrás de finos cabelos castanhos, impedindo-os de chegar aos seus ombros brancos. E ela vaga. Sozinha. Solitária. As mãos no bolso do hobby, apenas olhando as pessoas. Ou melhor, seus pés. Ninguém entende porque a garota de sorriso aberto e riso contagiante anda se escondendo debaixo do sol, com óculos de sol no rosto e o nariz enfiado dentro de um livro. Uma história de amor. Na Sicilia. Paraíso de tantos e tantos sonhos que se passam na cabeça jovem dessa personagem intrigante e estritamente misteriosa. E ela não se cansa. A cada passo que dá, um tijolo mais é posto em uma muralha em volta de seu coração. Ela está secando. Cada dia mais. Morrendo aos poucos. Esfriando,fugindo cada dia mais do calor desse sentimento tão famoso, e tão profano chamado ‘’amor’’. Ela foge, devagar. Um passo de cada vez. Como uma pantera avançando sobre um pequeno animal. Ela foge. E nunca olha para trás.