UM MENINO, A PROFESSORA E O AMOR
No sapato empoeirado havia manchas feitas por lágrimas multiplicadas por cada soluço, por isso, mergulhado em sua tristeza, não percebeu a professora, que perguntou-lhe o porquê de não estar em aula. e então, olhos baixos, com toda amargura capaz de carregar o coração de um menino, balbuciou uma resposta que era apenas uma queixa.
Conta não saber se houve riso, amor ou compaixão, somente lembra até hoje, e já faz muitos anos, do abraço terno e carinhoso, das mãos enxugando-lhe o rosto, e também das palavras quando ela disse-lhe que a visita indesejada não voltaria a acontecer nunca mais, e o conduziu para a classe, conversando sobre o giz em sua saia e o caderno novo trazido por ele no dia anterior.
Outras vezes avistou-os ou encontrou-os, mas já não importava.
Do pátio até a sala de aula fora uma eternidade feliz, e para um menino aquilo era nunca mais.
Música de Águas
Edit. Tchê/1998