A MINHA INFÃNCIA NO INTERIOR

A Minha Infância no Interior

Autor: José Gomes Paes

Sou de uma cidade do interior do Amazonas, onde vivi minha infância, da qual sinto muitas saudades. Às vezes me pego pensativo, matutando, como na minha infância eu fui muito feliz, fico triste pelas minhas filhas (tenho 4 meninas) e por muitas crianças que não puderam usufruir dessa dádiva da natureza, presas em nossa própria casa por grades e muros.

As janelas e portas das casas eram de madeiras e não tinham grades de ferro, os terrenos não tinham muros de tijolos, quando tinha era uma cerca de estaca que separava os quintais, bem, as casas tinham quintais, que continham muitas plantas, árvores frutíferas cheias de frutos e esses frutos não eram vendidos e sim juntados no pé, dado.

Lembro muito bem, que eu e meus irmãos acordávamos cedo para juntar as frutas fresquinhas, madurinhas, novinhas e gostosas, saboreadas no mesmo instante. Pois é, meu pai um amante da natureza em tudo ele ficava admirado, todas as fruteiras do nosso quintal foi ele que plantou, regava todos os dias bem cedo e olha ele escolhia o caroço das melhores frutas para plantar, tínhamos jambeiros, abacateiros, pupunheiras, ateiras, figueiras, limoeiros, bananeiras, laranjeiras, mangueiras..., por isso os frutos do nosso quintal eram muitos saborosos, duma coisa lembro muito bem, todos os quintais tinham mangueiras, isso sim, mangueiras e na época das mangas vinham muitos de bandos, periquitos, curicas, papagaio, pipiras, maracanã, e outros, onde eu e outros coleguinhas aproveitamos para balar de baladeira (estilingue) os bichinhos e olha que balávamos muitos deles (já pedi perdão, não tinha consciência do mal que estava fazendo).

Bem, muitas dessas mangueiras eram centenárias, grandes mesmo, então em baixo delas improvisávamos um campinho para jogar bola. Já pensou as mangas caindo, nós jogando ao som dos pássaros cantando, era uma maravilha, muitas das vezes eu rejeitava o almoço, a barriga tava entupida de frutas. Isso quando a mamãe deixava ou então ela se descuidava, visto que, tínhamos regras e obrigações a cumprir, tínhamos a nossa tarefa do dia a dia. Uma dessas tarefas, não tínhamos água encanada e tínhamos que carregar água do rio, descendo ribanceira abaixo, para encher os potes, bilhas e tanques. Essa atividade fazíamos à tarde, daí vinha à diversão que eu mais gostava o banho de rio no porto pulando na água, ah, isso sim, gostava muito, jogava bola, brincava de pira, quem demorava mais no fundo sem respirar, tudo isso maravilhoso.

Outra, coisa que gostava muito era a pescaria, eu sonhava que estava pescando, preparava linha, caniço, anzol e cedo lá estava eu no porto pescando e pegava sardinha, pacu, aracu, mandi e muitas outras qualidades.

Deixava minha mãe muito preocupada comigo. Não me esqueço dos conselhos dela: menino acorda vai escovar os dentes; menino vai tomar café; menino vai estudar, tens que ser alguém na vida; menino vem almoçar; menino se tu não sair da rua vai levar uma piza (surra) e era surra mesmo com galho de cuia assado, que doía prá caramba; menino ta na hora de dormir amanhã têm aula, isso sete horas da noite (não tinha luz elétrica, usavamos a lamparina). E com todo o carinho e meiguice me dava um beijo e completava: menino durma bem que os anjos te protejam e te guarde.

Boa noite.

FIM

“Quero dedicar em conto a minha mãe Marion (que completou 80 anos recentemente), ao meu pai José (que já está na morada eterna) e aos meus irmãos: Marcilene, Darcilene, Marilene, Maria de Lourdes, Maria Betânia, Marionzinha e Maria Cristina. Joaquim, Juarez e Joel (somos 11, sabe como é não tinha televisão). Agradecer a Deus pela família que temos”.

José Gomes Paes
Enviado por José Gomes Paes em 13/07/2011
Reeditado em 23/08/2011
Código do texto: T3091993
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