Sete Pele
Juscelino, corria assustado, chinelo nos pés saturados de poeira. Corria de quem? Do diabo, que a poucos viu banhando-se no rio, limpando toda sujeira, batizando mais um infeliz pactuado, abandonando a desgraceira vida sertaneja.
E o menino rezava... - Ô meu pai, salva eu meu pai. - De nada adiantava. O capeta já havia o alcançado numa aceleres inalcançada por qualquer homem que gabava-se de ligeireza. Ligeiras agora, apenas as súplicas tremuladas do infeliz. Quem disse que pobre tem sorte? Foi achar o diabo logo no rio do sertão. Quem dera se fosse um Oásis.
Frente à frente, o sete pele o encarava e ele fitava o chão seco, quente. Momentos de quietude, o diabo fazia caras e bocas e por fim, quebrando o silêncio momentâneo gargalhou, espantando o pobre Juscelino, que instintivamente ajoelhou, pronto para implorar por sua vida. Mas antes que isso acontecesse o Belzebu, proseou:
_Dos tantos meninos feios que já avistei, você é o mais feio de todos. Devia ter medo do espelho. Nem o Diabo te quer no inferno, infeliz!
Agora ele estava encorajado, levou tudo ao pé da letra. Nunca imaginaria que sua feiura serviria para algo. Entendia então porque Deus o fizera feio... E sorrindo assumiu um semblante robusto, levantou-se e retrucou:
_Ao menos não vou pro inferno. Seria desgraça demais! Agora dê-me licença que vou à igreja agradecer!
E para espanto do Diabo que viu-o desfilar orgulhando-se da feiura. O raquítico, com longos cabelos enrolados e um rosto envelhecido pelas desgraças da seca, passou rente ao sete pele sem nada a temer. Apenas pensava: Nem o diabo pode comigo!
Sem entender. Porém admirando tamanha coragem, pela primeira vez o Diabo soube o que era o perdão, e perdoando o garoto que mal imaginava o que fazia, deixou-o passar.