Viagem pro Mar - Pate I

Viagem ao mar – Parte I

Depois do almoço, todos ficamos sentados na porta de casa esperando o resto das pessoas chegarem. Algumas vinham de muito longe, andando também. Meu pai e minha mãe terminava de arrumar as malas. Eu e meus irmão embaixo do pé de umbu, Olhavamos pra longe, cheio de mistério. Tinha os primos, vizinhos, uma catrupia de gente. O capataz de seu Otacílio, sisudo de chapéu. As lavadeiras do rio, Dona Etelvina e dona Carlita, um homem da cidade, que não conheço.

Era meio dia. Minha Mainha reclava da demora. E minha vo, tadinha, nunca tinha visto o mar. Viu falar uma vez. Seu pai contando uma historia falou do mar pra ela. Um rio bem grande, a gente não vê o outro lado. Ela era pequena. E ficou com essa imagem na cabeça. Um rio tão grande que não existe o outro lado. Água era salgada, um rio salgado grande e sem um dos lados. Que no fim dele, era o céu que aparecia. O rio ligado ao céu, que caia igual um terremoto dentro dele. Numa violência danada. Escondendo o que tinha embaixo, os peixes, e de tão fundo, de tão fundo que era, Não via nada. Só o azul do ceu caído, escondendo o fundo do rio. E tinha as ondas, que era o pedaço dele, que se revoltavam e vinham pra terra. Numa valentia de gente braba, rolando com tudo, deixando de ser azul e ficando branco, tomado de bolhas, que vinham até a terra. Subia até não aguentar mais. Ficavam cansadam e voltavam esmorecidam, cansadas. Como se nada pudesse fugir do mar, nem mar consegue fugir do mar.

Falava assim. Deixava a gente zonzo, caído, com pena até, dessas coisas, que so aparece nas falas das pessoas mais velhas. Eu imaginava também a terra. Querendo ele. E se molhando, mas só um pouquinho, porque água tem que voltar. Ela só vai até o empurrão chegar. Eu também ficava com pena da terra que so podia, tomar banho sp um pouco. Tipo os pé se fosse gente, sá a pontinha dela, e o resto tudo seco, igual nossa fazenda. O mar só vai até um pedaço, se quiser mais dele. a gente que tem que ir.

Isso pertubou demais nossa paz. Dava até uma alegria ouvir isso. e dava medo e fazia a gente querer ver. E ficar esperando as águas pegar no pé da gente. Igual pegou no pé do meu bisavô que era pequeno e contou tudo pra minha vo.

Contava que quando seu pai falou deu medo. Não imaginava existir no mundo uma coisa tão diferente de grande. Dona Ana fazia bordado enquanto esperava. Dizia que ia porque não tinha nada pra fazer. Nasceu na fazenda e não tinha ontade nenhuma de sair de lá. Isso era coisa de juventude. Já passou da fase. Eu escutava tudo aquilo, cada um tinha um pensamento, ou que falava ou deixava escapar no jeito dos olhos . A gente criança não tinha muita preocupação. Era a aventura que contava mais. Fazia uns dias que não dormia, apagava só quando a cabeça doía de tanto pensamento. Minha mãe cuidando das coisas, meu pai indo pro trabalho, mas o que o que valia e movia era a viagem.

Minha vó, quietinha na caderinha de madeira, o olhar no mato, mexendo com eles. O sol forte no seu roto era impedido pelas mãos que funcionava vez ou outro com aparador de sol, seu rosto dividido pela sombra das mãos dava gente uma inquietação. Vontade de saber como ela se sentia. Perguntava se pra ela era a mesma coisa. Já velha, como era viajar tão longe, a pé ainda, pra um lugar tão grande. Logo ela que já viu tanta coisa e conheceu tanta gente. Uma coisa que sempre percebi nela , era que seu rosto velho, tinha jeito de menina. Olhava tudo com a leveza das coisas bonitas. Isso me deixava também sem um chão, porque tem gente muito mais novo, que já tem olheiras que mostram que a vida é difícil e que as coisas não vai dar certo nunca. Sem esperançaa pra nada. Como se tivesse parado na beira da estrada so esperando um carro chegar e levar embora, nem sei qual é o certo. Ficar cansado ou cheio de esperança como minha vó. P orque dá uma coisa, como se a vida não tivesse fim nunca, como nada fosse acabar, mesmo acabando tudo em volta, mesmo os pé de pau caindo, os matos secando, os parentes morrendo, e ela com o olhar nas estreslas, como se não fosse como ela.

Como se o mundo continuasse rodando, a noite clareando de manha, mesmo que a vida não perdoe e mate as coisas boa que faz a gente ficar feliz...