AMOR TRANSCENDENTAL
AMOR TRANSCENDENTAL
Numa cidade do interior do Pará, havia uma festa do padroeiro.
Era noite de lua cheia. O boto vestiu-se, como um galante cavalheiro, surgindo das águas mansas do rio, atrás de sua sereia que vindo do mar tornou-se donzela em busca de seu amor.
Não sabendo como encontrá-la, andava atrás do seu canto.
Ela sentada em uma cadeira junto a uma mesa o esperava...Esperou... Por longas horas.
Veio um jovm que se aproximou, por que havia ficado enfeitiçado pelo seu charme. Não, não era este ainda ... Foi gentil, porém, logo ele percebeu que não era o escolhido e afastou-se.
As horas passavam...Ela aguardava... Sabia que ele chegaria...
São vinte e três horas... e nada!
Aguardaria mais uma hora, até à meia-noite e caso não o encontrasse, deveria retornar para as profundezas do mar, e não saberia quando teria outra chance dos deuses para encontrar o seu príncipe, já que o último encontro fora no século XVI e, agora, confiante na promessa que fizeram, o aguardava...
Ele sentia o seu chamado e a procurava.
Vinte três e trinta. Ele parou... Olharam-se e sentiram que havia chegado o momento.
Estavam fascinados...
Ele deixou-se ficar em um lugar onde ela pudesse observá-lo. Não conseguia desviar seu olhar.
Ela simplesmente estava ali, em toda a sua beleza e altivez, muito embora com roupas simples de mortais, porém, ele a via através do tempo...
Ela percebeu que o tempo se esgotava e, com um sinal, ia retirar-se. Ele, percebendo isso, fez um gesto para que ficasse. Ela, com um sorriso, balançou a cabeça, pedindo que ele se aproximasse, o que ele prontamente atendeu.
Vinte três horas e cinquenta e oito minutos...
Levantaram-se... aproximaram –se do rio...
Apenas uma estrela cintilava no céu, indicando o lugar para onde deveriam retornar. A partir desse momento.
Zero hora... Meia noite... eles de mãos dadas, apertadas como se um não quizesse que o outro escapasse, fugisse, transportaram-se para o mundo de onde vieram.
Olhos fechados... Só eles existiam naquele instante, vivendo o seu amor. Abraçados, ora beijando-se faziam com que o ar que um respirasse fosse o mesmo do outro. Não sabiam que o tempo estava terminando para eles.
Ficaram horas? Minutos? Não! O tempo não importava, tinham atravessado a barreira do tempo, dos anos para aquele tão almejado encontro e só queriam estar juntos, enlaçados naquele amor ideal.
Mas o tempo esgotou-se e ela tinha que voltar: não poderiam ficar!
Com o coração soluçante despediu-se dele. Ele desesperadamente pedia para ir com ela, ou que ficasse com ele. Não, ela não poderia ficar tampouco levá-lo. A cada súplica, a cada beijo suas forças enfraqueciam. Teria que ser forte, mesmo com a alma despedaçada.
Um minuto de um novo dia... Sabiam que cada um iria para o seu lado. Ele para o rio e ela para as profundezas do mar.
Dois minutos. Abriram os olhos e numa mistura de lágrimas e felicidades, perceberam que tinham conseguido o que inúmeras vezes tentaram e desejaram ardentemente.
Ficar juntos.
Bragança, 22h
Obra: Gotas
( Concurso Nacional de Poesias - AMOR E PAIXÃO -o EROTISMO NA LITERATURA)