LENDA DO VELHO DA PRAIA. - LIA LÚCIA DE SÁ LEITÃO - 07/07/2011

PARA A FIEL ESCUDEIRA VÂNIA QUE TANTO PEDIU PARA ESCREVER ESSA HISTORINHA. uM BEIJINHO CARINHOSO LIA.

Todos os anos eu e um grupo de amigos ganhamos estrada e partimos em busca de aventuras, viajamos para conhecer alguns locais maravilhosos do cenário brasileiro. A curiosidade das praias de um Brasil bem mais tropical que o Nordeste.

Andamos quilômetros os carros com tração nas quatro rodas nem sempre venciam as areias e acontecia uma festa surpresa, todos se divertiam para sair do atoleiro. Passávamos as noites nos hotéis das estrelas, armávamos tendas ou aproveitávamos as casas de palhas de coqueiro aparentemente abandonadas pelos pescadores, os moradores temporários, outrossim fomos muito bem recebidos em algumas vilas de pescadores.

Todos se divertiam eu sempre fui a mais medrosa e associava a solidão da noite e o barulho do mar a alguma historinha de trancoso narrada pela Bá.

Naquelas férias de verão, só areia e estrelas. Imaginei a Lua prateando um chafariz japonês e algum samurai esperando a hora do chá sem se incomodar com essas bandas do lado de cá da Terra.

Ali, senti a presença de Deus numa paz infinita, acreditem! Eu rezei. Lembrei o Santo Anjo do Senhor, céus quantos anos!

Eu sabia que logo mais brilharia o Sol, o dia seria quente e viveriamos mais uma aventura documentada nos filmes e fotografias, gente feliz, barulho dos buggs antes atrelados aos carros. Desbravamos terrenos como cabrais espantados com tamanho espetáculo da natureza.

O vento da praia acoitava o mundo, era hora de acordar com os primeiros raios do Sol. Depois do café matinal, a companhia da limpeza juntava lixo orgânico, lixo seco, embalava-os devidamente para não poluir o paraíso. Era hora de lazer, banhos de mar, e mais uma jornada de copos tilintavam mais alegres que nós para mais uma lambança. Nunca pescamos, porém não faltou peixe assado sempre avistávamos alguém e negociávamos tudo, peixes, camarões, polvo, caranguejos, siris e uns tantos frutos do mar de conchinhas que ia pra panela com a água do mar e ficava uma delícia!

Fiquei sentada à beira mar e vi se aproximar um casal da região, perguntei alguma da distância daquela praia até o rio Tapajós o point do local chamado Alter do Chão, o homem informou tudo bem certinho eu tirei fotos com os dois, fizemos amizade e ele contou que tivéssemos cuidado com o velho do mar. Uns diziam não acreditar outros certamente não queriam um reencontro.

Claro que eu fiquei assanhadíssima por um encontro com o tal velho, e busquei mais informações. O homem revelou que a sujeira feita por turistas mal educados causava indignação ao velho e ele não hesitava em aparecer e dar um corretivo no descuidado.

Se o meu amigo leitor pensou que eu ia deixar uma sujeirinha para o velho aparecer, ERROU! Eu estava era com medo, lendas são lendas mas o melhor é ficar alerta. Afinal estávamos acampados junto a uma casa mal assombrada, eu ouvi uns passos na noite anterior, senti cheiro de cachimbo, já estava estátua, quando o dia amanheceu sai como quem não quer nada e não vi nenhuma marca de pé desconhecido. Falei para o grupo essa casa é mal assombrada eu ouvi coisas essa noite, claro que fui alvo das risadas e das piadas. Fiquei quietinha só pra ver no que ia dar afinal sempre levei fama de caça lendas.

Vamos ao fato.

Mais uma noite, dessa vez passamos dos limites, ouvimos e cantamos músicas altas, tomamos umas cervejinhas além do limite e cada um contaria as historias da região. Lá vem o boto cor de rosa, a Iara, Curupira, chegou a minha vez e todos silenciaram.

Apontei num sussurro para a casa ao lado e disse, estamos na praia de Maracanã, exatamente no pontal sul. Essa casa pertence ao velho do mar, um homem de barbas longas e brancas e que se veste como um velho marinheiro calças esfarrapadas nas extremidades, uma camisa surrada de sal e mar, e anda apoiado em um cajado de madeira de lei. Quando acontece das pessoas como nós acamparem próximo ou mesmo invadirem a casa e deixarem sujeira ele aparece do nada, bate nas pessoas com força. Faz o mar ficar revolto, e as areias surram a pele com chicotadas que a pessoa fica como se tivesse levado uma pisa de rabo de arraia. Depois o velho homem acende um cachimbo, baforeja e sai caminhando lentamente nas vistas do invasor, adentra no mar, as pessoas em choque entram na água e nadam nadam até cansar, vez por outra desaparecem nas profundezas das ondas mas é raro, O velho só assusta e vai embora num mergulho para o seu reino das águas salgadas de Maracanã.

Depois da minha historinha, as latinhas de cerveja que estavam espalhadas foram todas recolhidas, os restos de comida foram devidamente empacotados no lixo e fomos dormir um coladinho ao outro atento a qualquer barulho. Mesmo meio assombrados curtimos e contamos as estrelas mesmo depois que alguém falou que nasceriam verrugas nas pontas dos dedos.

Lia Lúcia de Sá Leitão
Enviado por Lia Lúcia de Sá Leitão em 07/07/2011
Reeditado em 19/07/2011
Código do texto: T3082009
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