Contos do eremita
Fogueira azul, chuva tão misteriosa quanto a transparência e pureza de suas águas. Clareira, troncos em volta da fogueira. Lá vem a garota novamente para me fazer algumas perguntas. Sempre eu com esse capuz, fadado a estar. Sempre a garota ou alguém a perguntar. Enredo batido, se não mudassem as perguntas e alguns detalhes.
- Olá, ancião.
- Você de novo, garota? Você deveria sumir um pouco, para que venham outros.
- Eu sumi. E nenhum deles veio - responde ela.
- Entendo...e você quer perguntar algo?
- Como sempre, quero perguntar o que diabos é você - diz ela, sentando-se em um dos troncos que jaz em volta da fogueira.
- Você não se cansa de perguntar mesmo isso... e eu nunca sei o que sou-respondeu ele.
- Você não sente raiva de ter sido criado assim, imperfeito e sem saber o que é?
O ancião suspirou. E fez um barulho esquisito, parecendo coçar a garganta.
- Não. Há um sentido para tudo. A imperfeição é perfeita. Se não houvesse imperfeição, não haveria para onde evoluir. Não saber o que é te dá algo para procurar. No mínimo, há sempre dois lados de uma questão, e um terceiro de quem os põe na balança.
A garota se levantou e saiu andando. Talvez, foi procurar algo.
O eremita.